Cigarrinha na mira! Saiba como manejar essa praga
Entenda quais são os principais danos que a presença desse inseto causa nas lavouras, além das melhores estratégias de monitoramento e controleA cigarrinha é uma das pragas mais importantes para a cultura do milho. E apesar desse pequeno inseto sugador não causar danos de forma direta, ele atua como vetor de patógenos que vão desencadear sérios problemas, como o complexo de enfezamento.
Essas doenças transmitidas pela cigarrinha para as plantas podem causar perdas de mais de 70% na produtividade, de acordo com dados da Embrapa.
"É importante esclarecer que a cigarrinha em si não causa esse dano. O fato de ela se alimentar do milho não é um dano direto. Ela é um vetor, responsável por transmitir os patógenos que causam o complexo do enfezamento, que provoca essas perdas que tanto vemos e ouvimos falar no campo", ressalta Mariana Durigan, gerente técnica de inseticidas LATAM, na Bayer. No Brasil, existem mais de 40 espécies de cigarrinha, mas a que transmite o complexo do enfezamento é a Dalbulus maidis.Braz Hora, líder em saúde vegetal para sementes na Bayer, explica que há registros dessa praga no país desde 1940, e seus picos populacionais estão relacionados ao ciclo do El Niño. "O problema ressurgiu mais recentemente em 2016, só que diferentemente das outras vezes, a população da praga praticamente não caiu. Agora, passamos por mais um ciclo de El Niño que é considerado um dos maiores da história", acrescenta.
Infestação da cigarrinha pode ser pior em 2024?
Na opinião de Paulo Garollo, engenheiro agrônomo e pesquisador especialista na cultura do milho na Fitolab, os agricultores devem estar atentos porque a pressão da praga pode ser maior neste ano.
Segundo ele, em 2023, a constância das chuvas em todas as áreas de plantio da safrinha reduziu drasticamente a migração da cigarrinha, o que fez as populações do inseto ficarem concentradas. "Outra diferença do ano passado para esse é que as colheitas da soja aconteceram de forma mais agrupada, e o plantio da segunda safra de milho também foi feito em uma janela mais uniforme. Ou seja, não tivemos uma janela ampla para fazer uma ponte a longo prazo, e o manejo foi mais eficiente porque a praga se concentrou em um lugar só."
Mariana destaca que as altas temperaturas, como as registradas nos últimos meses, também favorecem a reprodução da praga. "Com temperaturas quentes, podemos ter de 5 a 6 gerações da praga dentro do mesmo ciclo da cultura. Isso é extremamente crítico quando pensamos na questão da transmissão dos patógenos, e é um ponto muito preocupante neste ano."
Por que os prejuízos da cigarrinha são tão devastadores?
As principais bactérias e vírus transmitidos pela cigarrinha do milho causam um entupimento do vaso do condutor da planta, prejudicando o transporte dos nutrientes necessários para o enchimento do grão.
"Esse entupimento começa a ser uma barreira para a entrega do açúcar para a produção de grãos. Com isso, o grão vai ficando pequeno. O maior impacto que ocorre, portanto, é a não formação do grão de milho, o que gera um prejuízo enorme", explica o especialista da Fitolab.
Paulo comenta que os danos também se estendem ao colmo da planta, que passa a trabalhar para cumprir o papel das folhas, já que essa estrutura também é um depósito de alimento. Essa demanda extra, consequentemente, enfraquece o colmo e o deixa vulnerável ao complexo de enfezamento e até mesmo à infiltração de outros patógenos.
No caso do enfezamento pálido, os sintomas na planta aparecem em forma de estrias pálidas. No enfezamento vermelho, ocorre um descoloramento avermelhado das folhas.
De acordo com Braz, muitas vezes são necessárias ferramentas moleculares para diferenciar os tipos de enfezamento, pois os sintomas podem se confundir.
"Para complicar ainda mais, a cigarrinha ainda transmite o vírus do raiado fino e novas descobertas estão acontecendo sobre outros vírus", diz o profissional da Bayer.
Não espere os sintomas aparecerem!
De acordo com os especialistas, não é possível saber se a cigarrinha do milho está transmitindo ou não o complexo de enfezamento. Como os sintomas podem demorar até cerca de 1 mês para aparecer, a simples presença do inseto na lavoura já é o maior sinal para a tomada de decisão por parte do produtor. "O produtor não pode esperar os sintomas aparecerem, ele tem que enxergar a praga. A partir do momento em que o sintoma é padrão de referência, é tarde demais, a lavoura já foi para o espaço", alerta Paulo. Mas como monitorar essa praga? A recomendação é ter atenção desde o momento em que o milho emerge e as primeiras folhas se abrem. Esse monitoramento deve ser feito até o estádio fenológico de 8 folhas totalmente desenvolvidas.
Outra estratégia é utilizar híbridos com maior tolerância ao complexo de enfezamento, principalmente em períodos de grande pressão da praga. "Até porque o controle não significa extermínio. Híbridos de maior tolerância farão o complemento ao monitoramento", afirma o engenheiro agrônomo.
Ainda sobre o monitoramento da lavoura, Braz chama a atenção para o fato de que métodos tradicionais, como bater pano, não funcionam para a cigarrinha. A principal ferramenta, nesse caso, são as armadilhas amarelas, que acompanham o crescimento do milho. "Se o milho está baixo, é importante deixar a armadilha mais abaixo e acompanhar a planta à medida em que ela cresce, até cerca 1,10 m. Assim, você monitora até o surgimento das folhas mais novas, que são as mais atrativas para o inseto", esclarece.
Ainda de acordo com ele, uma cigarrinha na armadilha é motivo para ligar o alerta vermelho e iniciar as estratégias de controle de forma preventiva.
As estratégias mais eficientes de combate à cigarrinha
Além dos híbridos de milho mais tolerantes - nos últimos três anos, a Bayer lançou 18 híbridos com foco na tolerância ao complexo do enfezamento - e a prática de monitoramento, é importante utilizar ferramentas que garantam a sanidade da cultura na fase inicial do ciclo, a começar pelo tratamento de sementes.
Para isso, a Bayer conta com Cropstar®, que combina de dois modos de ação, atuando por contato e ingestão.
Em seguida, nos estádios V1 a V4, entra em ação o Curbix®, produto com o maior residual de controle do mercado atualmente.Curbix® tem propriedades físico-químicas que fazem com que as moléculas tenham adesão na superfície foliar. "Isso garante que essa molécula fique ali por mais tempo. Além disso, ele atua com efeito de choque e ingestão para insetos adultos e ninfas, o que confere maior proteção à lavagem pela chuva", conta a gerente técnica de inseticidas da Bayer. Para completar o manejo, a outra ferramenta disponível ao agricultor é o Connect®, um produto com efeito residual e de choque para esse espectro de pragas.
"O manejo Bayer é campeão com os melhores resultados do mercado. Consequentemente, ele também apresentou um aumento de produtividade com incremento de 6 sacas por hectare", comenta Mariana.
Além da utilização de híbridos, tratamento de sementes e manejo integrado de pragas e doenças, outras boas práticas agrícolas como dessecação da cultura e remoção de plantas daninhas e tigueras são fundamentais no combate à cigarrinha.
"Devido à grande capacidade de migração e infestação desse inseto, se um agricultor fizer tudo bem planejado, mas seus vizinhos não fizerem, todo mundo vai perder. Automaticamente, todos devem escolher a melhor genética, os melhores tratamentos de sementes e tentar plantar de modo sincronizado, evitando plantios com uma janela muito longa. Quem plantar depois, vai ter o milho mais novo no campo e automaticamente é para onde a cigarrinha vai migrar", orienta Braz.
Paulo concorda e complementa que só é possível crescer dentro do setor aplicando soluções integradas e enxergando a agricultura como um sistema de produção no qual uma cultura se integra à outra. "Passem também a fazer sua avaliação de rentabilidade não por cultura, mas por ano agrícola. Isso porque, o que você faz de melhor em uma cultura, até com um nível de investimento maior, acaba ajudando muito a cultura que vem na sequência", sugere o engenheiro agrônomo.
Perspectivas atualizadas para a safra de milho
Para o professor e especialista em agronegócio, Marcos Fava Neves, é difícil fazer projeções para o mercado de milho nesse momento porque as análises dependem da performance da segunda safra brasileira.
Nos Estados Unidos, a expectativa é de que o volume de área da safra de soja seja maior, considerando que a oleaginosa está mais atrativa do que o cereal por lá. Além disso, a situação na Ucrânia e o fechamento de portos pode impactar o mercado, o que requer atenção.
"Na minha leitura, o milho tende a se valorizar por causa da frustração em relação à safra no Brasil e um menor plantio nos Estados Unidos", aponta o Doutor Agro.