Combate ao greening e manejo do psilídeo
Confira as melhores estratégias para combater a principal praga da citriculturaA citricultura pode ser impactada por diversas pragas, mas uma em especial tem a atenção dos produtores: o psilídeo, inseto vetor do greening.
Em pouco tempo, essa doença reduz a produtividade e causa enorme prejuízo às lavouras, sendo capaz de inviabilizar toda a produção do pomar. Somente na região de Paranavaí, no noroeste do Paraná, por exemplo, o Instituto de Desenvolvimento Rural da região estimou que as perdas pelo greening podem chegar a 12 milhões de dólares em pouco mais de dois anos.
Além disso, de 2022 para 2023, a incidência do greening aumentou 56% nas lavouras de laranja de São Paulo e do Triângulo Mineiro, de acordo com levantamento feito pelo Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus).
É por isso que, atualmente, o greening é considerada a principal doença da citricultura mundial, provocando o colapso da cultura em alguns países.
No Brasil, embora sob controle, a doença tem aumentado nos últimos anos e, uma vez que a planta é infectada, não há cura, disseminando-se rapidamente.
De acordo com Danilo Franco, engenheiro agrônomo responsável por desenvolvimento de pesquisa na Farmatac, o psilídeo por si só não representa uma ameaça à citricultura, mas com a chegada do greening ao país, no início dos anos 2000, encontrou aqui o seu vetor de transmissão.
"Tivemos o primeiro relato de planta contaminada em 2004. A partir daí, com a presença de plantas doentes e do vetor, era natural que a doença se expandisse. Nosso trabalho agronômico, e enquanto produtores rurais, é tentar manejar a doença em vários aspectos para conter seu progresso, mas evitar por completo é impossível", explica.
Ele ainda lembra que o greeningchegou ao Brasil na mesma época em que apareceu no estado da Flórida, nos Estados Unidos. No entanto, por lá, a produção de citros foi praticamente dizimada. A grande diferença entre esses cenários, segundo o engenheiro agrônomo, é que a estratégia de manejo adotada pelos produtores brasileiros foi muito mais rigorosa, englobando o controle do vetor e a erradicação das plantas contaminadas.
Como acontece a transmissão da doença?
Thiago Liccioti, agrônomo de desenvolvimento de mercado na Bayer, conta que o psilídeo é o responsável por transmitir a bactéria do greening ao se alimentar da planta. O inseto vetor insere o estilete de seu mecanismo bucal na planta, atingindo o vaso condutor e contaminando o pé de laranja, ou adquirindo a bactéria de uma planta contaminada. "Infelizmente, não dispomos de um produto curativo, por isso é importante controlar o inseto", acrescenta.
Leonardo Turco, gerente de Field Marketing Citros na Bayer, comenta que a transmissão é muito rápida e, quanto maior o número de psilídeos em uma região, maior o potencial de transmissão.
Outro alerta feito por ele é sobre o crescimento da população de insetos nos últimos anos no país. "Vemos relatos de populações de 10 a 20 vezes maior do que a média histórica em algumas regiões. Com isso, temos uma combinação de fatores de alta combustão para a expansão do greening."
A fêmea do psilídeo aproveita o momento de brotação para colocar seus ovos na planta. Nesse sentido, quando a brotação ocorre de maneira coordenada no pomar, o manejo por meio da aplicação de inseticidas é mais eficiente. No entanto, quando há brotação desordenada (o que pode acontecer por diversos fatores, desde mudas infectadas a alterações nas condições climáticas), esse controle passa a ser mais difícil. "Em alguns municípios do estado de São Paulo, temos mais de 70% das plantas contaminadas. Além disso, o inseto consegue se multiplicar durante o ano todo, não há um momento específico de crescimento populacional, o que também adiciona complexidade no combate ao psilídeo", diz o engenheiro da Farmatec.
Sintomas do greening
Quando uma planta de citros está infectada pelo greening, é possível observar sintomas nas folhas e nos frutos.
Nas folhas, nota-se o mosqueamento ou amarelecimento assimétrico, o que permite, segundo o agrônomo da Bayer, diferenciar a doença de uma deficiência nutricional, por exemplo.
Já os frutos apresentam um desenvolvimento desigual, com um lado crescendo mais do que o outro. Esses sintomas evoluem ano a ano, até reduzirem a produtividade da planta. Além disso, essa planta doente passa a ser fonte de inóculo para o vetor, facilitando a disseminação da doença no restante do pomar e em fazendas vizinhas.
O gerente de Field Marketing Citros da Bayer ressalta que essas perdas podem chegar a quase 100% da produtividade, e as plantas mais novas são mais suscetíveis por terem um crescimento acelerado e, consequentemente, maior quantidade de brotos do que as plantas adultas.
Monitorando o psilídeo
O manejo do greening é focado, principalmente, em seu vetor. O objetivo é reduzir a população de insetos para controlar a disseminação da doença.
Portanto, o indicativo para saber se o manejo está sendo eficaz é a presença de um número reduzido de psilídeos na lavoura.
Para isso, é indicado realizar o monitoramento da praga por meio de armadilhas adesivas amarelas, além de um controle visual feito por um inspetor de pragas, que percorre os pomares observando se há a presença de adultos, ovos e ninfas nas plantas.
As melhores estratégias para manejo do greening
A fase vegetativa da planta de citros que vai de V1 a V4 é a mais crítica quando se trata da contaminação pelo greening. Isso porque é o período em que a fêmea do psilídeo faz a postura dos ovos. "É na fase de ninfa que há maior chance de a planta adquirir a bactéria, pois a ninfa tem duas vezes mais capacidade infectiva do que o adulto. "É por isso que é muito importante realizar um manejo adequado com produtos que agem sobre as três fases da vida do inseto: ovo, ninfa e adulto", acrescenta Thiago.
A Bayer conta com a solução para controle do inseto nessas três fases: Sivanto® Prime é um inseticida sistêmico, adequado para o manejo do greening.
O manejo ainda pode ser reforçado com associação de outros produtos de grupos químicos diferentes, como Bulldock®, Winner® e Provado®.
Esses produtos devem ser usados de maneira alternada, considerando a rotação de ativos para maior eficácia.
"Não existe uma bala de prata, um produto 100% capaz de resolver o problema do greening. Então, uma série de medidas deve ser tomada para o sucesso do controle da doença dentro do manejo químico", afirma o engenheiro agrônomo da Bayer.
O volume de de calda é outro pilar que deve ser considerado no manejo. Leonardo Turco explica que a recomendação é de 80 a 100 ml de calda por metro cúbico de copa. "Estamos trabalhando com aumento do volume de calda. Não podemos perder nenhuma molécula, precisamos trabalhar métodos para utilizar todos os grupos químicos disponíveis para maior controle", reforça o profissional.
Danilo destaca também que o Brasil é um exemplo no manejo do greening, adotando estratégias que envolvem desde o plantio de mudas sadias, o controle da população de insetos e o manejo adequado com inseticidas químicos ou biológicos, além da erradicação de plantas contaminadas. Mas ele lembra que a contaminação por greening não é uma exclusividade da planta de citros. "Existem outras plantas hospedeiras, plantas ornamentais como é o caso da murta e plantas fundo de quintal. Por isso, a mensagem complementar é a conscientização de todos, mesmo de quem não é produtor, mas tem um pé de laranja, limão ou poncã no fundo de casa que pode estar infectado."
Expectativas para a safra de citros
O professor Marcos Fava Neves, especialista em agronegócio, menciona a mudança estrutural na cadeia produtiva de citros com o surgimento do greening.
Atualmente, existe um problema na oferta com a queda brutal na produção da Flórida. Soma-se a isso a queda na safra brasileira, que deve fechar em 232 milhões de caixas, e os baixos estoques mundiais de suco de laranja.
Com isso, o preço do suco no mercado internacional passou para cerca de 5 mil dólares recentemente.
"O Brasil é praticamente o único produtor de citros, mas temos o problema com o greening. Precisamos de uma política de estado para controlar essa doença porque o Brasil é o país mais apto a continuar atendendo à demanda global e trazer pelo menos 2 bilhões de dólares por ano com a exportação da cadeia citrícola", conclui o Doutor Agro.