Conheça os riscos do percevejo do milho para a qualidade da sua safra e as melhores estratégias de controle
O percevejo do milho é um inseto sugador que ocorre principalmente na fase inicial da lavoura. Saiba como evitar os danos causados pelos diferentes tipos dessa praga.23 de setembro de 2024Fazer o manejo e o controle do percevejo do milho é um dos principais desafios do produtor. Afinal, o ataque desses insetos tem se tornado cada vez mais frequente, comprometendo a rentabilidade da lavoura.
A presença desses insetos na lavoura prejudica o estabelecimento das plantas, reduz a produtividade, afeta a qualidade dos grãos, entre outros danos.
Por conta disso, assim como a cigarrinha do milho, os percevejos se tornaram uma das principais preocupações dos produtores em diversas regiões de cultivo no Brasil.
Para evitar os problemas causados por essa praga, o primeiro passo é entender as características e comportamentos dessa praga.
Neste artigo, explicaremos as diferenças entre os principais tipos de percevejos do milho e como controlar essa praga.
O que é o percevejo do milho?
O percevejo do milho é um inseto sugador polífago que apresenta uma alta capacidade de dispersão. Ele também é considerado uma praga inicial da cultura do milho.
A estrutura vegetal e o período no qual o percevejo ataca variam de acordo com a espécie. Geralmente, o período crítico de infestação começa na fase de emergência de plântulas e se estende até o estágio V5, que ocorre em torno de 25-30 dias após emergência da cultura.
Nesse período, a praga suga os nutrientes da planta. Para isso, ela introduz seu aparelho bucal no colmo do milho, retirando da planta os nutrientes necessários para o seu desenvolvimento e causando sintomas de desnutrição.
Percevejo barriga-verde (Dichelops melacanthus)
Considerado a praga-chave do milho, o percevejo barriga-verde é um dos insetos mais frequentes e importantes que afetam essa cultura. Porém, é preciso ter cuidado durante a identificação dessa praga, já que várias espécies compartilham o mesmo nome popular.
Embora a variedade Dichelops furcatus também possa ser identificada no campo, a espécie D. melacanthus é o tipo de percevejo mais frequente.
Ela ocorre principalmente em regiões quentes e se desenvolve bem em regiões de cultivo sucessivo de soja e milho.
Quando adulto, o percevejo barriga-verde no milho se diferencia por conta do seu abdome de coloração verde e por sua cor marrom-acinzentada na região dorsal.
Porém, os danos provocados por essa espécie começam ainda na fase de ninfa, quando o inseto começa a se alimentar da base da plântula. Além de consumir a planta, esse percevejo também injeta toxinas no tecido vegetal, provocando diversos problemas.
Em casos de ataques severos, a praga pode levar a uma redução de até 30% na produção.
No entanto, a identificação desse inseto não é fácil. Geralmente, o produtor percebe a presença dessa praga na lavoura somente a partir do desenvolvimento de sintomas e dos primeiros danos causados.
Principais danos do percevejo barriga-verde
- Alterações fisiológicas que afetam o desenvolvimento da planta;
- Redução do stand das lavouras;
- Murchamento das folhas centrais (coração morto);
- Secamento parcial ou total da lavoura, exigindo que o produtor faça o replantio;
- Lesões com bordas amareladas nas folhas;
- Encharutamento (folhas retorcidas) e/ou enrosetamento (super perfilhamento).
Percevejo marrom (Euschistus heros)
O percevejo marrom pode ser confundido com a espécie anterior, mas apresenta características diferentes.
Seus ovos possuem uma coloração amarelada ou rosada e são depositados sobre as folhas. Quando os ovos eclodem, as ninfas liberadas possuem um corpo alaranjado e a cabeça preta.
À medida que se desenvolvem, adquirem uma cor mais escura, entre o cinza e o marrom.
Na fase adulta, o inseto se torna totalmente marrom-escuro e se diferencia por apresentar dois alongamentos laterais no pronoto e o desenho de uma meia-lua branca na sua região dorsal.
Geralmente esta praga atinge o milho cultivado após a colheita da soja, já que afeta as duas culturas.
Seu ataque geralmente ocorre nas fases iniciais de desenvolvimento da planta e provoca danos parecidos aos causados pelo percevejo barriga-verde.
Porém, o percevejo marrom no milho provoca danos menos intensos. Apesar disso, ele também é capaz de injetar toxinas durante sua alimentação e se destaca em função da sua grande capacidade de reprodução.
Por isso, ele prejudica o desenvolvimento das plantas e reduz a produtividade da lavoura.
Principais danos do percevejo marrom
- Atacam ramos e hastes, limitando a produção;
- Retenção foliar em função da injeção de toxinas;
- Provocam a má formação dos grãos;
- Reduz a produtividade da safra.
Percevejo castanho (Scaptocoris castanea)
O percevejo castanho, também chamado de percevejo-castanho-da-raiz, é uma praga que atinge o sistema radicular de várias culturas, incluindo o milho. Esse inseto utiliza seu aparelho sugador para atacar as raízes e sugar a seiva.
Porém, seu comportamento varia de acordo com as condições climáticas. Durante o período chuvoso, os insetos permanecem na parte superficial do solo, onde atacam as raízes em reboleiras de poucos metros ou até em vários hectares.
Quando o clima se torna mais quente e seco, entretanto, os insetos escavam o solo numa profundidade que pode chegar até a 2 metros.
Isso é possível graças a suas pernas do tipo escavadoras, que facilitam seu deslocamento e se tornaram a principal forma de identificação dessa praga.
O percevejo castanho também se diferencia por realizar apenas ataques esporádicos, o que dificulta seu controle. Por isso, caso não seja feito o monitoramento constante das raízes da planta, a produtividade da lavoura pode ser comprometida.
Principais danos do percevejo castanho
- Folhas murchas e amareladas;
- Deficiência nutricional e hídrica por conta dos danos causados nas raízes;
- Plantas com subdesenvolvimento;
- Secamento e definhamento;
- Morte das plantas (em casos extremos).
Percevejo gaúcho (Leptoglossus zonatus)
A presença do percevejo gaúcho, também chamado de percevejo cowboy, na cultura do milho tem aumentado nos últimos anos. Ao contrário das espécies anteriores, a aparência desse inseto tem várias características que facilitam sua identificação.
Quando adulto, esse percevejo apresenta coloração marrom escura, tíbia expandida em até 80%, duas manchas ovais e amareladas próximo à cabeça.
Outra característica marcante desse inseto é a presença de uma faixa transversal amarelada em zigue-zague das asas. Além desse contraste de cores, seu corpo alongado e suas antenas bicolores também chamam a atenção.
Embora não seja tão agressivo quanto às demais espécies, esse percevejo ataca as partes reprodutivas da planta, prejudicando sua frutificação.
Além disso, ele também libera toxinas durante a sua alimentação. Por isso, ele provoca vários danos, especialmente nos grãos, reduzindo sua qualidade e capacidade de germinação.
Principais danos do percevejo gaúcho
- Provoca a queda das estruturas reprodutivas;
- Prejudica o enchimento dos grãos;
- Altera a qualidade fisiológica e sanitária das sementes;
- Reduz a qualidade dos grãos.
Como os percevejos atacam a cultura do milho?
A estrutura vegetal e o período no qual os percevejos atacam variam de acordo com a espécie. De forma geral, o período crítico de ataque vai da emergência de plântulas até o estágio V5, em torno de 25-30 dias após emergência da cultura.
Por que essas pragas são tão perigosas?
Os percevejos são pragas iniciais em milho. Como mostramos anteriormente, os principais danos causados por esses insetos estão relacionados ao retardo no desenvolvimento de plantas.
Além disso, o percevejo do milho pode provocar o surgimento de plantas dominadas e a redução no número de plantas, comprometendo o estande ideal, entre outros problemas.
Esses danos afetam diretamente o estabelecimento da lavoura com reflexos na redução de produtividade e qualidade de grãos.
Em certas situações, em ataques severos e dificuldades de controle, a ressemeadura das áreas pode se fazer necessária.
Dicas de manejo e controle do percevejo do milho
O monitoramento da lavoura é o primeiro passo para um manejo eficiente do percevejo na cultura do milho.
Esse acompanhamento deve ser feito de forma constante e por um profissional capaz de identificar as diferentes espécies dessa praga.
Além disso, conhecer o histórico de ocorrências de percevejos na área também ajuda a entender quais espécies são mais frequentes no local.
Como esses insetos também podem estar associados a outras plantas, conferir o cronograma de culturas antecessoras e as estratégias de manejo que vinham sendo empregadas também ajudam a definir como lidar com o manejo da praga.
Para te ajudar a resolver esse problema, listamos abaixo algumas práticas que auxiliam no manejo de percevejos no milho. Confira!
Como identificar o percevejo na cultura do milho?
No sistema soja-milho, o ataque de percevejos inicia-se na soja. Na fase final desta cultura, frequentemente as populações de barriga-verde (Dichelops) são altas.
Como o período de entressafra da soja para o milho é curto, os percevejos abrigam-se na palhada ou em plantas daninhas hospedeiras, e conseguem facilmente sobreviver na área.
No estabelecimento do milho, a pressão de ataque será grande. Dessa forma, recomenda-se o monitoramento ainda na cultura da soja e aplicação de inseticidas para controle, visando reduzir o nível populacional tanto do percevejo barriga-verde, quanto das outras espécies.
Dessecação e controle de plantas daninhas
Como mencionado anteriormente, com a colheita da cultura antecessora, os percevejos buscam alternativas para garantir sua sobrevivência. As plantas daninhas são um bom refúgio para essas pragas.
Por isso, uma importante prática de manejo é a dessecação da área e controle de plantas daninhas hospedeiras antes da semeadura do milho.
Utilização de um bom tratamento de sementes
O tratamento de sementes é uma ótima ferramenta de manejo de pragas iniciais na cultura do milho. Diversos trabalhos realizados pelo Phytus Group indicam benefícios na redução de danos causados por lagartas e percevejos nos estádios iniciais da cultura.
Além disso, o tratamento de sementes tem auxiliado no controle da cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis), praga que tem sido bem problemática em diversas regiões, causando danos expressivos pela transmissão de enfezamentos.
Entretanto, o tratamento de sementes em milho deve ser encarado como prática fundamental no manejo de pragas iniciais. O efeito dessa prática não é suficiente para conferir uma proteção durante todo o período crítico.
Até ocorre uma supressão no ataque de lagartas e percevejos, porém em algumas situações de alta pressão, há necessidade de medidas complementares para proteção da cultura nas fases iniciais.
Aplicação de inseticidas na parte aérea
O monitoramento é essencial para definir o nível de dano e a necessidade do controle. Se o nível de dano for atingido na fase inicial de desenvolvimento do milho (da emergência até V5), será necessário o controle da praga, pois os danos causados nessas fases podem resultar em perdas significativas.
Em regiões de alta pressão, o ataque pode se prolongar para além de V4, devendo o monitoramento ser mantido até V6. Para essas aplicações, é importante o uso de inseticidas com efeito de choque e residual.
Assim, a planta terá proteção por mais tempo e ainda será protegida contra reinfestações. Caso haja reinfestações, novas aplicações deverão ser executadas.
Estratégias alternativas
Algumas práticas podem auxiliar no manejo integrado da cultura. Essas práticas são consideradas estratégias alternativas e eficientes no controle de pragas do milho.
Dentre elas, podemos destacar a rotação de culturas, o plantio em épocas menos favoráveis, utilização de híbridos mais bem adaptados ao local, fertilização compatível para aumentar a tolerância das plantas, dentre outras.
Controle biológico
O controle biológico é uma prática promissora, mas que ainda precisa evoluir em termos práticos. Trata-se do uso de organismos parasitóides e entomopatógenos capazes de dificultar o desenvolvimento dos percevejos.
Os principais agentes biológicos encontrados em lavouras são as vespas parasitóides de ovos, tais como a Telenomus podisi e Trissolcus basalis.
As vespas colocam ovos sobre os ovos dos percevejos, e assim originam novas vespinhas, multiplicando-se na área.