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Clima na agricultura: quais as perspectivas para o próximo ano

Enquanto boas condições climáticas permitem o aumento da produtividade e rentabilidade da lavoura, as anomalias climáticas podem causar perdas expressivas da produção. É fundamental que o agricultor entenda a influência do clima na agricultura e adeque seu planejamento às perspectivas climáticas da próxima safra25 de julho de 2022
Clima na agricultura quais os impactos e perspectivas para o próximo ano

A influência do clima na agricultura exige que o produtor fique atento às perspectivas climáticas para a próxima safra. Afinal, apesar de não conseguir controlar o clima, pelo menos ele poderá se preparar para o impacto das variações meteorológicas na produtividade da lavoura.

Na safra 2020/2021, em função da seca que atingiu boa parte do Brasil, foram registradas perdas expressivas de produtividades em culturas importantes, como o milho.

Esse evento, assim como outras anomalias no clima, tem alimentado o debate sobre os impactos das mudanças climáticas e como o agricultor pode preparar e proteger sua lavoura de eventos climáticos extremos, que devem se tornar mais frequentes.

Por isso, antes de conhecer as perspectivas climáticas para a safra 2021/2022, é importante lembrar o papel do clima da produção agrícola e a necessidade de adoção de práticas sustentáveis no campo.


Qual é a importância do clima para a agricultura?

Para apresentarem frutos com boa qualidade física e nutricional e alta produtividade, os cultivares precisam ter suas necessidades fisiológicas atendidas. Para isso, as condições climáticas, como luminosidade, água e temperatura, devem ser adequadas à cada cultura.

Nesse contexto, as lavouras se desenvolvem dentro da janela ideal de plantio, aumentando sua produtividade e, por consequência, o ganho econômico do produtor na primeira e segunda safra.

Por isso, muitos agricultores investem em estudos de zoneamento climático da área de plantio antes de iniciar o cultivo de qualquer cultura. Assim, eles conseguem planejar melhor o plantio, permitindo que a lavoura tenha acesso a todos os recursos que precisa para seu desenvolvimento saudável.

Para realizar esse estudo de zoneamento, os produtores e técnicos agrícolas podem consultar o Painel de Indicação de Riscos do ZARC, implementado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em parceria com a Embrapa e outras instituições.

Esse painel indica quais são os períodos ideais de plantio e semeadura, considerando as características de cada cidade, solo e ciclo dos cultivares.

Além disso, é fundamental que as decisões do agricultor também sejam embasadas em ferramentas de monitoramento climático e planejamento agrícola. Desse modo, é mais fácil obter uma safra de sucesso e minimizar as perdas agrícolas causadas por interferências do clima na agricultura.

Entenda mais abaixo!


Como o clima interfere na agricultura?

A ocorrência de boas condições climáticas é fundamental para o sucesso de qualquer lavoura, desde que os parâmetros meteorológicos sejam ideais às necessidades de cada cultura.

No caso da soja, por exemplo, a Embrapa recomenda o plantio apenas após o período de chuva e quando a temperatura do solo estiver entre 20 e 30ºC. Em contrapartida, a cultura do meloeiro, por exemplo, apresenta melhor rendimento em condições de déficit hídrico e temperatura do solo em torno de 34ºC.

Por outro lado, quando as condições climáticas não são favoráveis para o bom desenvolvimento da cultura, o produtor pode enfrentar problemas sérios na produtividade da safra.

A seca, por exemplo, prejudica a fase reprodutiva de várias plantas cultiváveis, reduzindo a produção de sementes. A falta de água também atrapalha o processo de germinação até mesmo em culturas que se desenvolvem melhor em condições de déficit hídrico, como o limão e a melancia.

Em contrapartida, chuvas em excesso dificultam a implementação rápida da lavoura e podem provocar erosão e/ou compactação do solo. Além disso, o solo encharcado ainda favorece a ocorrência de doenças, como a podridão e o tombamento.

Com esses exemplos, fica fácil perceber que não existe produção agrícola de qualidade sem boas condições climáticas. Mas quais fatores influenciam numa lavoura com alta rentabilidade?

Leia também: Como lidar com o clima seco


Quais são as variáveis meteorológicas que mais influenciam as atividades agrícolas?

Para obter uma safra de alta rentabilidade, é fundamental que o produtor faça uma análise das variáveis meteorológicas que influenciam na sua área de plantio, tais como:

  • Temperatura do ar e do solo;
  • Umidade do ar e do solo;
  • Intensidade luminosa;
  • Intensidade e direção dos ventos;
  • Índice pluviométrico, probabilidade e precipitação de chuvas e precipitação acumulada;
  • Altitude;
  • Relevo;
  • Pressão atmosférica.

Com base nessas informações, o agricultor poderá escolher uma cultura cujo ciclo de vida e necessidades fisiológicas sejam compatíveis com as condições climáticas da região. Vale lembrar que cada região está sujeita a um padrão climático diferente, o que também influencia nos cultivares mais indicados para plantio.


Os diversos tipos de climas do Brasil permitem o quê na agricultura?

Por ser um país de proporções continentais, o Brasil é caracterizado pela ocorrência de 6 tipos de clima diferentes: equatorial, tropical, tropical de altitude, tropical atlântico, semiárido e subtropical.

Cada um deles tem suas características próprias de temperatura, precipitação, intensidade luminosa, entre outras variações meteorológicas.

Por isso, a distribuição das lavouras de plantas cultiváveis também varia de acordo com a região e suas características climáticas.

Na Região Sul, por exemplo, o inverno rigoroso favorece o cultivo de frutas como maçã, pêssego e ameixa. Já na Região Nordeste, as condições climáticas favorecem a produção de manga, melão e melancia, por exemplo.

Apesar dessas particularidades, vale lembrar que o avanço da tecnologia tem permitido o desenvolvimento de cultivares mais resistentes, a criação de espaços artificiais de plantio, bem como novas técnicas de cultivo.

Por isso, culturas que antes eram restritas a uma determinada região, já estão sendo cultivadas em áreas até então incompatíveis com o seu crescimento.

Esse é o caso da uva, por exemplo, cultura que se desenvolve muito bem em regiões de clima mais ameno, mas que se adaptou muito bem ao Vale do São Francisco, região do semiárido baiano.

No entanto, as mudanças climáticas podem interferir nesse cenário, prejudicando o cultivo de diversas culturas no país.


Como as mudanças climáticas afetam a agricultura?

Anomalias climáticas já começaram a afetar a produtividade das lavouras. De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a baixa precipitação de chuvas na maior parte do país, bem como as fortes geadas que atingiram a região sul e sudeste provocaram perdas expressivas na safra 2020/2021.

A expectativa de produção de milho de segunda safra, por exemplo, era de cerca de 82,8 milhões de toneladas. No entanto, em função dos problemas climáticos, foi registrada uma queda de 23,4 milhões de toneladas na última safra.

E esses acontecimentos são apenas exemplos de como as mudanças e as perspectivas climáticas podem prejudicar a produção agrícola nos próximos anos. Entenda mais abaixo!


Quais os impactos do aquecimento global para a agricultura?

De acordo com dados da OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), as mudanças climáticas estão induzindo o aumento da temperatura em diversas regiões do planeta e alterando a distribuição e o volume de chuvas.

Além disso, problemas de degradação do solo e eventos climáticos extremos, como enchentes e secas severas, devem se tornar mais frequentes.

Por isso, o agricultor pode enfrentar problemas com a produtividade e perder parte da lucratividade por safra. Nesse cenário, pesquisadores e organizações de todo o mundo já começaram a traçar estratégias para lidar com a influência do clima na agricultura.


A tecnologia é uma excelente aliada no enfrentamento das mudanças climáticas

A agricultura é uma peça-chave para o enfrentamento das mudanças climáticas e para atender as necessidades de alimentação da população.

Por isso, a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) defende a adoção da chamada Agricultura Climaticamente Inteligente (CSA, sigla do inglês Climate-Smart Agriculture), elaborada de acordo com as metas da Agenda 2030.

O objetivo da iniciativa é incentivar a adoção de práticas sustentáveis que aumentem a produtividade e a rentabilidade da lavoura, que deve ser adaptável e resiliente às mudanças climáticas.

O CSA também é defendido pelo próprio Banco Mundial e pela própria CNA, que já se manifestou a favor da adoção de práticas CSA e do uso de tecnologia para o avanço da agricultura sustentável, prática que já vem sendo adotada no Brasil.

Em documento publicado para a COP-26 (26ª Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas), a CNA ainda lembrou que os agricultores precisam de financiamento, objetivos claros e apoio científico e legal, para adotarem práticas agrícolas mais sustentáveis.

Sinalizando apoio à declaração internacional dos líderes presentes na COP-26, o Governo Brasileiro também anunciou metas para alcançar a neutralidade climática. Isso significa que várias mudanças devem ser implementadas, como as estratégias para redução da emissão de carbono, por exemplo.

Enquanto essas mudanças não chegam, será que o agricultor já pode se preparar para as mudanças climáticas?


Como se preparar para enfrentar as mudanças climáticas na agricultura?

O setor agrícola já vem adotando várias estratégias para aumentar a produção da lavoura e usar os recursos ambientais de forma mais eficiente e sustentável.

A melhor parte é que a adoção de práticas sustentáveis também deve aumentar os ganhos econômicos do agricultor. Após tornarem sua fazenda mais sustentável, os irmãos Fiorese, conseguiram aumentar sua competitividade no mercado internacional, tendo acesso a países exigentes em relação à produção sustentável.

Como mostra o Programa Impulso News, vários países estão mais rigorosos com relação a origem das commodities que estão sendo comercializadas. Por isso, alimentos produzidos em locais onde existem problemas ambientais, como o desmatamento, tendem a ser barrados, principalmente na Europa.

Brasil na COP-26, o aumento nos custos de produção e destaques do agro | Impulso News EP.36

Por isso, o produtor pode adotar várias estratégias para manter sua lavoura sustentável, produtiva e rentável. Confira algumas dessas estratégias abaixo:

  • Adoção do sistema de rotação de cultura;
  • Instalação de sistema de captação de água da chuva;
  • Investimento no Sistema de Plantio Direto (SPD);
  • Monitoramento climático da fazenda;
  • Controle adequado de pragas e doenças na lavoura, utilizando defensivos de forma racional e eficiente;
  • Planejamento adequado do plantio e colheita da lavoura;
  • Investimento em tecnologias que auxiliam na análise de desempenho da lavoura e na tomada de decisões do agricultor, como o software de gestão agrícola Climate FieldView e ferramentas da Agricultura Digital.


Quais são as perspectivas climáticas para a safra 2021/2022?

Traçar estratégias de cultivo e manejo a longo prazo é importante, assim como ficar atento ao que pode acontecer num futuro próximo é fundamental para qualquer agricultor.

E como o clima impacta diretamente na produtividade da lavoura, é essencial conferir as perspectivas climáticas para a próxima safra.

Pensando nisso, a CNA promoveu um painel com alguns dos principais especialistas em meteorologia do país, que comentaram as perspectivas climáticas para o próximo ano e como elas devem afetar a produtividade.

Confira as principais projeções do clima elaboradas pelos especialistas para a safra 2021/22.


Qual será o impacto do fenômeno La Niña?

De acordo com Francisco de Assis Diniz, meteorologista do Inmet, a safra 2021/22 pode ser impactada pelo La Niña, fenômeno atmosférico que reduz a temperatura das águas do Oceano Pacífico Equatorial. Como consequência, ele modifica os níveis de temperatura e precipitação global.

No entanto, o meteorologista explica que a expectativa é de uma La Niña de fraca intensidade, sendo que o fenômeno deve ser mais atuante no último trimestre de 2021.

Por outro lado, no início de 2022 esse fenômeno deve perder força, atuando somente até o fim do verão. Mesmo assim, os produtores devem ficar atentos a algumas alterações climáticas que devem ocorrer nesse período.


Previsões meteorológicas para o início de 2022

Em função do fenômeno La Niña, entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022, a tendência é que a precipitação de chuvas fique acima da média no Paraná e nos estados da Região Norte e Nordeste.

Em contrapartida, nesse mesmo período, o volume de chuvas deve ficar abaixo da média histórica no leste de Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e nos estados da Região Sudeste e Centro-Oeste do país.

De acordo com o , esse cenário confirma a atuação do fenômeno La Niña no país, que geralmente aumenta a probabilidade de estiagem no sul do país.

No entanto, isso não significa, necessariamente, que a ocorrência de seca nesses estados. Apesar da irregularidade do volume de chuvas, que varia conforme a região, o nível de precipitação ainda será suficiente para a manutenção das lavouras, desde que sejam bem distribuídas nesse período.

Mesmo assim, João Rodrigo de Castro, agrometeorologista do Climatempo, alerta que esse período de verão mais seco pode prejudicar, principalmente, a produtividade das lavouras de café, citrus e cana-de-açúcar.

Sendo assim, os agricultores devem ficar atentos aos parâmetros meteorológicos nessas regiões e acompanhar as perspectivas climáticas para as próximas safras.

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