Doenças fúngicas no milho: danos e estratégias de controle
Entenda quais são as principais doenças, os danos que afetam a cultura e o que fazer para não ter prejuízos na safra28 de novembro de 2024 /// 11 minutos de leituraNa cultura do milho, já foram identificadas mais de 20 doenças, mas as foliares, causadas por fungos, se destacam como as mais relevantes, uma vez que ocorrem com maior frequência e intensidade. Em virtude disso, essas doenças podem resultar em perdas superiores a 80% na produção.
Dagma Araújo, pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo, explica que os fungos possuem alta capacidade de colonizar as plantas, infectá-las e dispersar-se com facilidade. "Eles evoluíram juntamente com as plantas e se tornaram os principais patógenos. No caso do milho, não é diferente", complementa a especialista.
Dentre as diversas doenças foliares no milho, algumas são predominantes em praticamente todas as regiões do Brasil, com destaque para a mancha-branca, a mancha de turcicum, a ferrugem polissora, a ferrugem comum e a ferrugem branca ou tropical.
Sintomas das doenças fúngicas no milho
Mancha-branca: Caracteriza-se pelo surgimento de anasarcas nas folhas, manchas escuras que conferem à planta um aspecto de encharcada. Essas manchas se expandem rapidamente, causando lesões esbranquiçadas, e resultam em perdas significativas na produção.
"Alguns estudos indicam que, a cada 10% de severidade da doença, a planta perde até 40% de sua capacidade fotossintética. Assim, mesmo que a lesão ainda não seja visível, a planta pode já estar comprometida. Por isso, é fundamental realizar o diagnóstico precocemente", alerta a pesquisadora da Embrapa.
Mancha de turcicum ou HT: Esta doença também inicia na fase vegetativa, com lesões que se desenvolvem em direção às nervuras, necrosando os tecidos da planta. Dependendo da suscetibilidade do híbrido e das condições climáticas favoráveis ao fungo, essas lesões podem se unir e cobrir grandes áreas da folha. As perdas causadas pela mancha de turcicum podem alcançar cerca de 40% da produção de milho.
Ferrugem polissora: Apresenta manchas pulverulentas na folha, inicialmente de coloração alaranjada, que escurecem à medida que o fungo se desenvolve.
Ferrugem branca ou tropical: Os sintomas incluem o surgimento de pústulas esbranquiçadas ou amareladas. Sua identificação é facilitada pela coloração distinta, que a diferencia de outros tipos de ferrugem.
Ferrugem comum: Causa pústulas menores, localizadas tanto na parte superior quanto inferior da folha. Sua coloração é mais amarronzada quando comparada à ferrugem polissora.
"A ferrugem foi uma doença de grande relevância na cultura do milho alguns anos atrás, mas seu impacto tem diminuído. Por outro lado, as manchas se tornaram mais significativas. Isso leva muitos produtores a confundirem a doença que
afeta suas lavouras com a ferrugem, o que reforça a importância de um diagnóstico correto para o controle adequado das doenças do milho", alerta Ximena Vilela, Gerente de Marketing Fungicidas da Bayer. Segundo ela, a ferrugem ocorre com maior frequência em regiões de baixa altitude e temperatura elevada.
Outras doenças que afetam o milho
Conforme Dagma Araújo, uma doença antes considerada secundária, mas que ganhou relevância, é a mancha-de-bipolaris. "Essa doença é mais difícil de identificar, pois pode ser confundida com outras. Por isso, é crucial que os produtores conheçam seus sintomas para implementar o controle no momento correto", destaca.
A mancha-de-bipolaris pode ser confundida com a cercosporiose, que provoca lesões retangulares que seguem as nervuras da folha, tornando-se acinzentadas com o tempo. Já as lesões causadas por Bipolaris também acompanham as nervuras, mas não são delimitadas, podendo ultrapassar as nervuras secundárias da planta.
"Vale ressaltar que, no campo, é comum a presença de múltiplos patógenos em uma mesma planta. Por isso, muitas vezes, é desafiador para o produtor identificar e diferenciar as doenças", acrescenta a pesquisadora.
Dinâmica de dispersão das doenças no campo
Willian Zancam, Gerente de Pragas, Doenças e Soluções Integradas da Bayer, afirma que a evolução dos sistemas de produção agrícola, a escolha de híbridos suscetíveis e o clima tropical do Brasil estão diretamente relacionados à dinâmica dos patógenos nas lavouras. "Esses fatores são essenciais para o desenvolvimento de fungos, bactérias e pragas que atuam como agentes de transmissão de enfezamentos e algumas viroses. Com isso, observamos uma mudança na dinâmica das doenças, com algumas delas, antes restritas a estádios vegetativos ou à fase reprodutiva, antecipando-se", explica Zancam.
Ximena Vilela complementa, afirmando que o melhoramento do milho tem se concentrado em híbridos com altos tetos produtivos, ou seja, plantas com alta capacidade de produção, mas com menor resistência a patógenos. "Nesse contexto, os fungicidas são ferramentas essenciais para manter o teto produtivo esperado para esses híbridos.”
Os profissionais ressaltam que a decisão sobre qual produto aplicar e o momento adequado para essa etapa dependem de um diagnóstico preciso, que se dá por meio de um monitoramento rigoroso da lavoura.
Estratégias de manejo e controle
Para proteger a lavoura de milho das doenças fúngicas, é fundamental adotar práticas integradas de manejo. O processo inicia com a escolha da semente, levando em consideração as principais doenças que afetam a região ou a propriedade. Em seguida, deve-se proceder com o tratamento das sementes. "O tratamento de sementes é crucial para evitar a infecção por fungos no início do ciclo da planta", alerta Dagma.
Além disso, é necessário realizar a semeadura dentro das janelas de plantio recomendadas, aplicar o tratamento químico adequado e garantir uma boa operação de colheita, evitando perdas. Isso porque, espigas ou grãos que caem no solo podem originar plantas tigueras, mais suscetíveis a doenças e ataques de insetos.
Quanto ao manejo químico, Willian Zancam destaca que a resposta dos híbridos ao uso de fungicidas pode variar, especialmente em regiões com clima favorável à ocorrência de doenças. "É importante frisar que os fungicidas têm um efeito primário, ou seja, são tóxicos para um grupo específico de fungos, mas também reduzem o estresse da planta causado por esses patógenos. Uma planta sem estresse tem maior capacidade de crescer e se desenvolver, o que é fundamental para aumentar a produtividade do milho", explica.
Bayer conduz projeto de manejo de fungicidas no milho
Na última safrinha, a Bayer, em parceria com a Proteplan, conduziu o maior estudo sobre manejo de fungicidas em milho no Brasil. O projeto foi realizado no estado de Mato Grosso, em 576 parcelas experimentais em áreas produtivas de milho segunda safra.
Foram avaliados três híbridos com diferentes níveis de sensibilidade às doenças, provenientes de famílias com baixa, média e alta sensibilidade, a fim de verificar a resposta ao uso de fungicidas em duas janelas de plantio distintas.
“A importância desse projeto não é apenas fornecer ferramentas para o agricultor, mas também compartilhar informações sobre o momento ideal de aplicação e como intercalar o uso das ferramentas disponíveis para otimizar o manejo de doenças", explica Ximena.
Os resultados do estudo mostraram que, independentemente do perfil de sanidade do híbrido, o manejo com fungicidas Bayer aumentou a produtividade, em média, em 13%. Com a aplicação de duas doses de Fox® Xpro, o aumento de produtividade variou de 15% a 17%.
O estudo também mostrou que, independentemente da janela de plantio, há um alto retorno em termos de incremento de produtividade ao utilizar o manejo combinado de Nativo® com Fox® Xpro - com aplicação de Nativo® em V6 e Fox® Xpro em VT.
“Esse número é ainda maior com duas aplicações de Fox® Xpro, com incremento de 19 sacas na segunda janela, em condições de alta precipitação, e 18 sacas na primeira janela", comenta a gerente da Bayer.
Além disso, esses fungicidas têm versatilidade, pois não são exclusivos para o milho. Podem ser aplicados também em culturas como algodão, soja e trigo.
Perspectivas para a safra de milho
Sobre as perspectivas para a safra de milho 2024/2025, o professor Marcos Fava Neves aponta que a produção deverá ser ligeiramente inferior ao ciclo anterior, passando de 1,23 bilhão de toneladas para 1,22 bilhão. Nesse cenário, os Estados Unidos devem produzir 384 milhões de toneladas, ante 390 milhões na safra passada, enquanto o Brasil deve registrar um aumento, alcançando 127 milhões de toneladas, em comparação aos 122 milhões do período anterior. "Isso indica que a oferta e a demanda de milho estarão ajustadas. O consumo, impulsionado pela demanda por etanol e ração para a produção de carnes, favorece as perspectivas de preços para o produtor", conclui o Doutor Agro.