Percevejo na soja: manejo integrado é o controle de pragas com racionalidade
O manejo integrado de pragas reúne estratégias eficientes para combater diferentes infestações na lavoura. No caso do percevejo na soja, principal praga que atinge a cultura, é importante conhecer as espécies, suas características e os danos que provocam para aplicar as estratégias de manejo e controle corretas25 de julho de 2022A cultura da soja está sujeita à infestação de diversas pragas ao longo de seu ciclo de desenvolvimento. Caso essas pragas não sejam monitoradas e controladas, o agricultor pode sofrer com perdas significativas de produtividade e, por consequência, sérios prejuízos financeiros.
Para evitar esses problemas, ele deve estar atento ao manejo integrado de pragas da soja. E uma das etapas desse manejo é o monitoramento de infestações, especialmente das pragas mais nocivas à cultura, como o percevejo na soja.
Considerada a praga que oferece maior risco ao desenvolvimento da lavoura de soja, o percevejo ataca a cultura a partir da fase de início de formação das vagens, prejudicando a formação dos grãos.
Por consequência, o rendimento da lavoura e a qualidade das sementes são comprometidos. O problema é que o percevejo é um inimigo difícil de se detectar em função do comportamento da própria espécie.
Além disso, o quadro é agravado porque muitos produtores acreditam que o simples investimento no cultivo de soja Bt é capaz de controlar a infestação de percevejos, mas isso não é verdade.
Por isso, o agricultor precisa entender o que é e como age essa praga. Assim, será mais fácil monitorar e controlar o percevejo.
O que é o percevejo da soja?
O percevejo que ataca a cultura da soja pertence à família Pentatomidae, grupo taxonômico que reúne vários insetos com características e comportamentos semelhantes.
Os integrantes desse grupo são chamados de percevejos fitófagos e são responsáveis por provocar perdas importantes em diversas culturas.
No caso da soja, várias espécies de percevejo podem infestar a plantação, causando problemas desde a fase de ninfa até a vida adulta.
Nessas fases, esses insetos sugadores atacam a soja a partir do início da formação das vagens e continuam se alimentando até o final do desenvolvimento das sementes, que correspondem às fases reprodutivas R3 a R7.
Por isso, esse intervalo é considerado o período crítico de infestação e serve como parâmetro para o início da aplicação de produtos de controle da praga.
Quais são as principais espécies de percevejo da soja?
Antes de entrar no tema controle e monitoramento, é essencial que o agricultor conheça as principais espécies de percevejo que atingem a soja e suas particularidades.
Pensando nisso, nos próximos tópicos é possível conhecer as 4 principais espécies de percevejo na cultura da soja.
Percevejo verde (Nezara viridula)
O percevejo-verde é uma espécie adaptada a regiões mais frias, especialmente na Região Sul do Brasil, onde é mais abundante.
Nesses locais, as infestações permanecem ativas ao longo de todo ano, sendo que na fase de reprodução, podem buscar hospedeiros alternativos, como o feijão e o feijão guandu.
Cada fêmea de percevejo-verde pode depositar entre 50 e 100 ovos de cor bege, agrupados em mini-colméias na face inferior das folhas.
Após a eclosão dos ovos, as ninfas, que são pretas com manchas claras, permanecem agrupadas até o segundo instar (fase de desenvolvimento), quando começam a atacar a lavoura.
Quais os danos do percevejo verde na soja?
- Libera toxinas que provocam a redução drástica da massa dos grãos, deformando as sementes;
- Pode provocar o aborto das sementes quando o ataque ocorre nas fases iniciais de formação;
- Pode reduzir o vigor e o potencial germinativo das sementes;
- Facilita a contaminação da soja por fungos e bactérias.
Percevejo pequeno (Piezodorus guildinii)
Também chamado de percevejo verde pequeno, essa espécie tem ampla distribuição, podendo ser encontrada em todas as regiões produtoras de soja do país.
Seu diferencial é que ele ataca somente oleaginosas, como a soja, o feijão e as crotalárias. Além disso, as fêmeas depositam 10 a 20 ovos pretos por postura, que ficam organizados em fileiras.
Quando adulto, o percevejo adquire uma cor predominantemente verde amarelado, atinge cerca de 10 mm de comprimento e desenvolve uma listra marrom transversal no pronoto.
Quais os danos do percevejo pequeno na soja?
- Pode danificar até, aproximadamente, 73,5 kg de soja/hectare por percevejo/m² num período de apenas 35 dias de ataque. Em um dia, o dano em somente 1 hectare chega a 2,1 kg;
- Reduz o teor de óleo nos grãos;
- Aumenta a percentagem de proteínas e ácidos graxos livres nas sementes;
- Responsável por transmitir patógenos e provocar problemas fisiológicos, como a retenção foliar.
Percevejo marrom (Euschistus heros)
A soja é a principal hospedeira do percevejo-marrom. Essa espécie é bem adaptada às regiões de clima quente, sendo que sua maior incidência ocorre desde o Norte do Paraná até as regiões Centro Oeste, Norte e Nordeste.
A fêmea do percevejo marrom deposita apenas de 5 a 8 ovos, de cor amarelada, por postura. Apesar disso, em média, os adultos podem viver 116 dias, sendo que alguns chegam a sobreviver por quase 300 dias.
Na soja, essa espécie é encontrada principalmente entre os meses de novembro e abril. Nos períodos mais frios e quando não há muito alimento, os percevejos se alojam em restos culturais e folhas mortas, onde entram no chamado estado de diapausa (dormência).
Essa estratégia permite que a espécie consiga passar até 7 meses sem se alimentar até o início da próxima safra. Por isso, esse período de dormência favorece a sobrevivência e a abundância da espécie.
O que o percevejo marrom causa na soja?
- Pode danificar até, aproximadamente, 30 kg de soja/hectare por percevejo/m² num período de apenas 35 dias de ataque. Em um dia, o dano em somente 1 hectare chega a 0,8 kg;
- Atacam vagens em formação, deixando-as com aspecto marrom e murcho;
- Prejudica a formação de grãos e reduz a produtividade;
- Pode atacar os ramos e hastes da planta;
- Pode provocar queda e apodrecimento das estruturas florais e frutos;
- Pode provocar retenção foliar, atrapalhando o processo de colheita e aumentando a umidade das sementes coletadas.
Percevejo barriga-verde (Dichelops sp.)
Existem duas espécies que recebem o nome de percevejo barriga-verde: a Dichelops furcatus e a Dichelops melacanthus. Quando adultas, ambas apresentam a face superior marrom e a inferior verde.
Porém, a D. furcatus é um pouco maior (10 mm) e os prolongamentos laterais no pronoto, que lembram espinhos, apresentam a mesma cor da face superior/dorsal. Já o D. melacanthus é menor (7 mm) e apresenta espinhos com extremidades mais escuras.
Nos dois casos, os percevejos costumam atacar principalmente nas fases iniciais do desenvolvimento vegetativo da soja (V1 a V3). E apesar da ninfa ter 5 instares, o percevejo se torna mais agressivo a partir do terceiro instar.
Vale lembrar que, o clima quente e a implantação do sistema de cultivo sucessivo com soja e milho, favorecem o desenvolvimento e aceleram o ciclo de vida da praga. Por isso, sua infestação pode causar danos importantes à plantação.
Quais os danos do percevejo barriga-verde na soja?
- Injeta toxinas nos tecidos da planta durante sua alimentação. Em ataques severos, isso pode levar a planta à morte, já que ela murcha até ficar totalmente seca;
- Pode provocar a redução do estande de plantas na lavoura, criando a necessidade de replantio em várias áreas;
- Pode promover alterações fisiológicas na planta, impedindo a abertura do limbo foliar, provocando o super perfilhamento ou abrindo furos com bordas amareladas nas folhas;
- Pode provocar a perda média de 30% da produção de plantas sobreviventes.
Qual percevejo causa mais danos na soja?
De acordo com o pesquisador e entomologista Crébio José Ávila, da Embrapa, o percevejo verde-pequeno é a espécie que provoca mais danos à lavoura de soja.
Isso ocorre em função do tamanho do seu estilete, estrutura parecida com uma agulha e que faz parte do aparelho bucal de insetos sugadores.
No caso desse percevejo, o estilete é duas vezes maior do que o convencional. Por isso, ele consegue causar mais danos, como apontam os dados anteriores.
Apesar disso, o agricultor também deve ter cuidado com as demais espécies, especialmente com o percevejo marrom, que é o mais abundante no país.
Afinal, eles podem provocar o problema conhecido como “soja louca”. Entenda melhor abaixo.
O que é soja louca e qual sua relação com os percevejos?
Soja louca é o nome de um problema fisiológico que impede o amadurecimento dos grãos de soja na época certa.
De acordo com o agrônomo e fitopatologista Maurício Meyer, pesquisador da Embrapa, esse problema pode ser causado por dois agentes diferentes. O primeiro é o percevejo, agente causador da soja louca I. E o segundo é o nematóides Aphelenchoides sp, agente causador da Soja Louca II ou SL-II.
Quando as ninfas ou adultos dos percevejos atacam a planta, impedem o desenvolvimento normal das sementes, provocam o abortamento, a queda das vagens e retardam o processo de amadurecimento.
Como consequência, ocorre a paralisação da fase reprodutiva e o aumento da fase vegetativa da soja. Por isso, a planta desenvolve os sintomas de haste verde e retenção foliar no fim da cultura, conforme mencionado anteriormente.
Diante desse contexto, é fundamental que o agricultor utilize as técnicas corretas de controle dessa praga.
Para saber como fazer esse controle da forma correta, siga as instruções abaixo.
Como controlar o percevejo na cultura da soja?
O cuidado com solo, com o clima, o uso de sementes certificadas e do manejo nutricional e fitossanitário são fundamentais para o controle do percevejo na soja.
E todas essas técnicas fazem parte do chamado manejo integrado de pragas da soja, que é explicado abaixo.
O que é manejo integrado de pragas?
O que é manejo integrado de pragas?
O monitoramento da lavoura, a correta identificação das pragas e seus inimigos naturais, e os níveis de infestação são os principais componentes do MIP, ferramenta recomendada pela Embrapa.
O MIP parte do pressuposto que nem todo inseto requer controle e que alguns níveis de infestação podem ser tolerados sem que haja perda significativa de produtividade. Por isso, a decisão de se fazer uso de defensivos para controlar uma praga deve ser fundamentada no monitoramento da lavoura.
Nesse contexto, o ideal é que o agricultor comece o manejo ainda na fase de planejamento da safra, com uma análise do histórico de ocorrência da área.
Assim, ele deve apurar quais as espécies e infestações de pragas que ocorreram na safra anterior ou na cultura de inverno e quais foram os pontos de maior incidência na região.
Além disso, o produtor também precisa considerar as previsões meteorológicas antes de optar pela ação de controle. Afinal, esse dado influencia no tipo de técnica de controle que será adotada.
Lembrando que essa técnica pode ser aplicada para controlar diferentes pragas em diferentes culturas, não apenas o percevejo na soja, que requer cuidados específicos, como você pode ver abaixo.
Como monitorar infestação de percevejo?
O ideal é que o monitoramento da soja seja realizado toda semana e durante todos os estágios do ciclo da soja, especialmente na fase reprodutiva, quando as infestações são mais frequentes.
De acordo com as estratégias do MIP, o monitoramento permite a inspeção de diferentes partes da planta. Essas informações são relacionadas com a época de ocorrência e os estágios de desenvolvimento da cultura, bem como a densidade populacional de pragas, considerando a presença ou não de seus inimigos naturais.
Vale lembrar que, para lavouras destinadas ao consumo, hoje o nível de ação recomendado é de 2 percevejos/m ou pano de batida. Já nas lavouras destinadas à produção de sementes, a recomendação é de 1 percevejo/m ou pano de batida.
Caso o agricultor perceba que o nível de infestação de percevejo está acima do recomendado, está na hora de investir nas medidas de controle.
Quais são os produtos para controle de percevejo na soja?
As estratégias de combate às infestações de percevejos na lavoura de soja incluem dois tipos de controle: o biológico e o químico.
Controle Biológico
Os predadores ou inimigos naturais do percevejo também são importantes dentro das estratégias de manejo. Afinal, eles podem controlar naturalmente as infestações das pragas.
Porém, para que esse controle biológico realmente funcione, o agricultor deve utilizar o predador certo para atacar cada fase de vida do percevejo.
De acordo com a Embrapa, no caso do percevejo marrom, por exemplo, o agricultor pode utilizar os parasitoides Trissolcus basalis e Telenomus podisi para eliminar os ovos da praga na lavoura.
Além disso, esse controle também pode ser feito quando os adultos estão na fase adulta. Nesse caso, o produtor pode utilizar vespas Hexacladia smithii e moscas de Trichopoda nitens.
Controle químico
O controle químico é o método mais utilizado no combate às pragas, inclusive de percevejos. No entanto, o tipo de inseticida e o momento da aplicação variam de acordo com a espécie de percevejo que está infestando a plantação.
No controle do percevejo barriga-verde, por exemplo, produtos que misturam neonicotinoides + carbamatos têm sido muito utilizados.
Por outro lado, para o controle de percevejo marrom e do percevejo pequeno é recomendável a utilização de inseticidas com piretroides isolados, piretroides + organofosforado, ou que misturam neonicotinoides + piretroides ou dois piretroides no mesmo produto.
O inseticida Connect, por exemplo, oferece um período de controle prolongado contra a ação do percevejo marrom, percevejo pequeno e percevejo verde.
Lembrando que a utilização de qualquer estratégia de controle exige acompanhamento. A Bayer possui profissionais qualificados para suportar programas de MIP na soja, oferecendo um portfólio de soluções.
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