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Impacto das plantas daninhas na cotonicultura

Plantas daninhas podem reduzir a produtividade do algodoeiro e a qualidade da fibra produzida no campo.
24 de julho de 2022

Plantas daninhas podem diminuir o desenvolvimento do algodão, devido à competição por água, luz e nutrientes, impacto que também é notável em outras culturas. No entanto, além da redução na produtividade, plantas invasoras podem interferir na qualidade das fibras de algodão, ao dificultarem e onerarem a colheita e o beneficiamento das plumas.

Neste contexto, o bom manejo de plantas daninhas e a atenção nos momentos em que estas invasoras causam maior impacto são essenciais para um algodoeiro sustentável e rentável.

Lei este artigo Bollgard, e saiba mais sobre a interferência de plantas daninhas na qualidade da fibra produzida no campo e sobre o uso eficiente de herbicidas no algodoeiro.

Confira!

Importância do manejo de plantas daninhas na cotonicultura

Além de aumentarem o custo de produção, plantas daninhas presentes na lavoura no fim do ciclo podem diminuir a qualidade da fibra produzida e dificultar a colheita.

Para se ter uma ideia, os gastos com o controle de plantas daninhas na cotonicultura geralmente representam 30% do custo total de produção. Este valor pode ser ainda maior se existirem plantas daninhas resistentes aos herbicidas na lavoura.

O manejo de plantas daninhas feito de forma inadequada provoca perdas médias de produtividade de 15 a 25%, e em alguns casos pode até inviabilizar a colheita.

A intensidade das perdas depende das espécies presentes na área, do nível de infestação, da variedade cultivada, da época em que a infestação ocorre e do tempo de convivência da cultura com as plantas daninhas.

Desafios no controle de plantas daninhas

Segundo o professor e doutor Pedro Jacob Christoffoleti, especialista em manejo de plantas daninhas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP/ESALQ), os principais desafios encontrados pelos cotonicultores no manejo das plantas daninhas são:

  • Baixa competitividade do algodão no início do ciclo.
  • Necessidade de controle das plantas daninhas até o fim do ciclo da cultura
  • Presença de plantas daninhas resistentes aos principais herbicidas utilizados.
  • Alto custo dos programas de manejo de plantas daninhas.
  • Destruição das soqueiras de algodão após a colheita da cultura.

Época de controle de plantas daninhas

O controle das plantas daninhas no período crítico de interferência é importante para assegurar a máxima produtividade da lavoura. Nesta fase, o algodão apresenta baixa capacidade competitiva com as plantas daninhas.

Sendo assim, devemos reforçar que o período crítico de prevenção da interferência (PCPI) das plantas daninhas na lavoura de algodão se estende dos 15 aos 70 dias após a emergência da cultura.

O PCPI varia de acordo com a variedade utilizada, as condições climáticas e o desenvolvimento inicial da lavoura.

Além do controle de plantas daninhas na fase inicial, a lavoura de algodão deve estar livre de plantas daninhas na fase da colheita. O objetivo dessa estratégia é evitar contaminações e perdas de qualidade das plumas produzidas.

Impactos das plantas daninhas na qualidade da pluma produzida

A qualidade da fibra produzida depende de diversas características. Podemos dividi-las em dois grupos:

  • Intrínsecas
    Estão relacionadas com a variedade utilizada.
  • Extrínsecas
    Estão ligadas ao manejo adotado durante o ciclo da cultura.

O controle de plantas daninhas está diretamente ligado às características extrínsecas da qualidade da fibra. Isso porque plantas daninhas podem contaminar a pluma com sementes, folhas e ramos na hora da colheita quando não são manejadas adequadamente.

Esses contaminantes são identificados como impurezas na fibra, característica conhecida globalmente no mercado de algodão como “trash”.

O nível de contaminação de um fardinho ou lote de algodão é uma das características avaliadas na hora da classificação da fibra produzida, e pode determinar o ágio ou deságio na precificação da pluma.

Ágio: valor adicionado ao preço da fibra. Deságio: depreciação do preço da fibra.

Contaminações presentes nas fibras diminuem o valor de comercialização do produto. Dependendo da quantidade de contaminações na fibra, o fardinho ou o lote em questão podem ser classificados como impróprios para as fiações.

As plantas daninhas que contaminam a pluma de algodão

Para facilitar o entendimento sobre o potencial de impacto e contaminação de cada planta daninha no algodoeiro, separamos as espécies em três grupos:

Plantas daninhas que dificultam e reduzem a eficiência da colheita do algodão

A corda-de-viola (Ipomoea spp.) e o apaga-fogo (Alternanthera tenella) se desenvolvem de forma exuberante, com várias ramificações que se enroscam na colhedora. Elas trazem risco de incêndio e podem atrasar a colheita dependendo do nível de infestação.

Plantas daninhas que contaminam o algodão com sementes e folhas

Picão-preto (Bidens pilosa), carrapicho-de-carneiro ou caruru (Acanthospermum hispidum) e capim-carrapicho (Cenchrus echinatus) são plantas que reduzem a qualidade das fibras produzidas, graças à presença de sementes e folhas no algodão em caroço.

Legenda: Fibra contaminada por Picão. Crédito: Minas Cotton

A presença dessas estruturas no caroço de algodão faz com que seja necessário um maior esforço no beneficiamento (separação do caroço de algodão da fibra) para a limpeza da pluma. O impacto dessa contaminação é a diminuição do rendimento, do comprimento e da uniformidade das fibras.

A venda de algodão é realizada de acordo com a qualidade das fibras. A presença de impurezas nas fibras diminui o valor de comercialização.

Plantas daninhas que contaminam o algodão com fibras duras

Gramíneas como o capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) e braquiária (Brachiaria spp.) contaminam as fibras de algodão com suas fibras duras nos processos de colheita, impactando inclusive no descaroçamento.

Os impactos dessa contaminação são:

• Quebra dos fios
Redução da produtividade nas fiações.

• Dificuldade no processo de tingimento das fibras
Fibras duras de plantas daninhas são capazes de absorver corantes. Por causa disso, o tingimento da fibra de algodão contaminada acaba sendo desuniforme.

O visual da pluma de algodão contaminada

Cada tipo de contaminação da pluma pode gerar impactos diferentes. Veja nas imagens concedidas por Anicézio Resende, Gerente da Minas Cotton, como ficam as plumas de algodão quando contaminadas antes ou durante a colheita.

Legenda: Fibra contaminada por capim. Crédito: Minas Cotton.


Legenda: Fibra contaminada por caule. Crédito: Minas Cotton.


Legenda: Fibra contaminada por seed cout. Crédito: Minas Cotton.


Legenda: Fibra contaminada por graxa de prensa de fardinho. Crédito: Minas Cotton.


Legenda: Fibra contaminada por lona plástica preta do rolinho (esquerda), e fibra contaminada por plástico lona rosa do rolinho (direita). Crédito: Minas Cotton.


Legenda: Fibra contaminada por lona plástica amarela do rolinho (esquerda), e fibra contaminada por plástico lona azul do rolinho (direita). Crédito: Minas Cotton.


Legenda: Fibra contaminada por excesso de umidade. Crédito: Minas Cotton.


Legenda: Fibra contaminada por cerdas de escovas de beneficiamento. Crédito: Minas Cotton.


Para poder comparar, veja uma pluma normal, sem contaminantes:

Legenda: Padrão normal sem contaminação. Crédito: Minas Cotton.

O manejo de plantas daninhas no algodoeiro com Bollgard II RR Flex

O controle químico é a principal técnica utilizada no manejo de plantas daninhas no algodoeiro. O uso de herbicidas deve ocorrer nas principais etapas de desenvolvimento da lavoura, como na dessecação antes do plantio, e na pré e pós-emergência de plantas daninhas.

Produtores que plantam algodão com a biotecnologia Bollgard II RR Flex podem contar com o benefício da tolerância de suas variedades ao herbicida Roundup (glifosato). A flexibilidade de manejo promovida por essa inovação facilita o trabalho do cotonicultor, que pode realizar aplicações durante toda a safra, para manejar plantas daninhas remanescentes e evitar contaminações na pluma.

Para maior eficiência no controle químico das plantas daninhas, é necessária a presença de umidade no solo.

Dicas de manejo de plantas daninhas com algodão Bollgard II RR Flex

Para a aplicação de herbicidas pós-emergentes, devemos utilizar herbicidas seletivos à cultura ou herbicidas não seletivos aplicados na entrelinha de cultivo. As aplicações devem ser realizadas em estágio inicial de desenvolvimento das plantas daninhas.

Para o controle de daninhas de folha larga, a aplicação deve ser realizada quando as plantas apresentarem até quatro folhas.

Para manejar as gramíneas, a aplicação deve ser feita até as plantas iniciarem o perfilhamento.

Os herbicidas não seletivos apresentam maior espectro de controle e podem ser utilizados quando as plantas daninhas estão em estádios fenológicos mais avançados.

Manejo de resistência de plantas daninhas ao glifosato

Para que a cotonicultura possa usufruir a longevidade dos benefícios do uso do herbicida Roundup em lavouras de algodão Bollgard II RR Flex, é importante nos atentarmos à rotação de princípios ativos de herbicidas durante o manejo de plantas daninhas. Com a adoção dessa boa prática agronômica, evitamos:

• Desenvolvimento de plantas daninhas resistentes ao herbicida glifosato.

• Aumento nos custos de produção pela utilização de doses maiores de herbicidas.

Além disso, a rotação de herbicidas promove o manejo mais sustentável e rentável de plantas daninhas em lavouras de algodão, quando a aplicação acontece no momento ideal – momento em que as plantas invasoras estão em estágios mais vulneráveis.

O herbicida certo no momento ideal

Pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), juntamente com professores da Universidade Federal de Goiás, realizaram estudo para avaliar o melhor método de manejo de plantas daninhas em lavoura de algodão transgênico Roundup Ready Flex (RF).

O estudo buscou identificar quais são os melhores herbicidas e o momento ideal de aplicação para cada um deles.

Foram avaliados os herbicidas glifosato, flumioxazin, carfentrazone, diuron, s-metolaclor, quando aplicados na dessecação, pré-emergência, início do estágio vegetativo (V2-V3) e no estágio reprodutivo (F1-F2).

O resultado do trabalho determinou que a utilização de diuron e clomazone em pré-emergência do algodão é uma opção viável, visando diminuir o número de aplicações de glifosato e, consequentemente, a pressão de seleção de plantas daninhas resistentes ao herbicida.

Uma segunda conclusão da pesquisa foi que, sob baixa infestação de plantas daninhas, duas aplicações de glifosato em dessecação e no estágio V2-V3 foram suficientes para alcançar elevada produtividade.

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