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Como fazer o manejo de ácaro-rajado na lavoura

O ácaro-rajado é capaz de atacar cerca de 150 plantas cultiváveis, como soja, milho e morango. Caso a praga não seja controlada, a produtividade da lavoura pode ser seriamente afetada.20 de julho de 2022 /// 8 minutos de leitura

Por ser uma espécie altamente polífaga, ou seja, capaz de consumir diferentes fontes de alimento, o ácaro-rajado é considerado uma das principais ameaças a diversas lavouras do mundo.

De acordo com um estudo publicado na Revista Nature, uma das publicações científicas mais conceituadas do mundo, essa praga pode atacar mais de 1.100 plantas distintas, incluindo espécies que produzem substâncias tóxicas.

Desse total, cerca de 150 são plantas cultiváveis com grande importância econômica, como soja, algodão e milho, entre outras. Em função desse comportamento, esse ácaro possui uma grande incidência e pode causar grandes prejuízos em diversas áreas produtoras.

Por isso, é fundamental que o agricultor saiba como monitorar, identificar, controlar e prevenir a ocorrência dessa praga.

Para atingir esses objetivos, o primeiro passo é conhecer melhor as características físicas e comportamentais dessa espécie de ácaro.

Qual a família do ácaro-rajado?

O ácaro-rajado foi identificado pela primeira vez em 1836, quando recebeu o nome científico Tetranychus urticae. Essa espécie pertence à família Tetranychidae, classificação taxonômica utilizada para indicar um grupo de ácaros com características semelhantes, incluindo várias espécies de ácaros-praga, como o ácaro vermelho (Tetranychus ludeni).

Assim como as aranhas, parte dos ácaros que pertencem a essa família também são capazes de produzir teias, que são utilizadas com diferentes objetivos, como conservação dos ovos, alimentação dos próprios ácaros e proteção contra inimigos naturais, como os ácaros predadores.

Nesse contexto, os ácaros encontram o ambiente ideal para se desenvolverem e consumirem a plantação. Para evitar esse problema, é fundamental conhecer as características que permitem essa identificação o mais cedo possível, permitindo a criação de estratégias de controle.

Aprenda quais são essas características abaixo.

Como identificar o ácaro-rajado?

Assim como outras espécies de ácaro, a identificação desse ácaro exige muita atenção, já que ele é muito pequeno. Na fase adulta, a fêmea apresenta um abdômen com formato ovalado e, no máximo, 0,5 mm de comprimento. Já o macho apresenta uma das extremidades na região abdominal mais estreita e cerca de 0,3 mm de comprimento.

Por outro lado, ambos podem apresentar uma coloração que varia entre verde-amarelo e verde-escuro, bem como duas manchas escuras na região dorsal do corpo.

Além dessas características, esse ácaro apresenta 4 pares de pernas na fase adulta, o que o diferencia de outras espécies.

Tanto machos quanto fêmeas geralmente buscam abrigo na parte inferior das folhas, onde tecem suas teias e depositam seus ovos durante a fase reprodutiva.

Porém, por serem muito pequenos, é essencial fazer uma avaliação mais criteriosa com o auxílio de uma lupa de aumento e/ou microscópio. Dessa forma, é possível identificar a espécie correta e evitar que a praga seja confundida com outros tipos de ácaros que também podem atacar a lavoura.

Lembrando que a fase adulta desse ácaro não é a única que pode ser identificada na lavoura. Por isso, é importante conhecer o ciclo de vida dessa espécie.

Ciclo de vida

De acordo com uma Circular Técnica da Embrapa, o ciclo de vida desse ácaro pode variar entre 10 e 12 dias e é composto por 5 estágios de desenvolvimento.

A primeira parte desse ciclo começa logo após a deposição dos ovos nas teias produzidas pelos ácaros. Esses ovos possuem apenas 0,1 mm de diâmetro, são esféricos e apresentam uma coloração que varia entre o branco translúcido e o amarelo.

A partir de cada um deles, emerge uma larva com 3 pares de pernas e uma coloração que varia entre o incolor e o amarelo.

Essas larvas, por sua vez, se transformam em protoninfas e, em seguida, em deutoninfas. Depois de atravessar cada uma dessas fases, o ácaro finalmente chega a fase adulta, quando apresenta as características descritas anteriormente.

Após chegar ao estágio adulto, o ácaro pode apresentar uma longevidade de quase um mês. Nesse período, a fêmea, que não precisa ser fecundada, pode depositar entre 100 e 300 ovos, recomeçando o ciclo.

Vale lembrar que o desenvolvimento dessa espécie é favorecido em regiões mais quentes, com temperaturas em torno de 25ºC, e baixa umidade. Nessas condições, o ciclo de vida é reduzido, permitindo que o ácaro se desenvolva em até 7 dias.

Em função dessa preferência climática, é comum que a praga se desenvolva em casas de vegetação, ambientes protegidos por estruturas plásticas e plantações irrigadas localizadas em regiões ou épocas de pouca chuva, por exemplo.

Por isso, a praga já foi identificada em vários estados do Brasil e em diferentes culturas, como é possível verificar abaixo.

Figura 1. Ataque do ácaro-rajado em morangueiro. (A) fêmea do ácaro-raja- do sobre a folha; (B) ovos nas folhas; (C) teias com ovos e formas móveis; (D) danos ocasionados na cultura Fotos: Daniel Bernardi / Fonte: Empraba

Quais culturas o ácaro-rajado ataca?

Esse ácaro pode atacar diversas culturas em todo o mundo. Porém, no Brasil, ele é identificado principalmente nas lavouras de:

  • Algodão (Gossypium hirsutum);
  • Amendoim (Arachis hypogaea);
  • Banana (Musa spp.);
  • Batata (Solanum tuberosum);
  • Beringela (Solanum melongena);
  • Carambola (Averrhoa carambola);
  • Crisântemo (Chrysanthemum sp.);
  • Couve (Brassica oleracea);
  • Ervilha (Pisum sativum);
  • Feijão (Phaseolus vulgaris);
  • Girassol (Helianthus annuus);
  • Maçã (Malus domestica);
  • Mamão (Carica papaya);
  • Mamona (Ricinus communis);
  • Mandioca (Manihot esculenta);
  • Manga (Mangifera indica);
  • Melancia (Citrullus lanatus);
  • Melão (Cucumis melo);
  • Milho (Zea mays);
  • Morango (Fragaria spp.);
  • Pimenta (Capsicum sp.);
  • Pêssego (Prunus persica);
  • Pepino (Cucumis sativus);
  • Rabanete (Raphanus sativus);
  • Rosa (Rosa spp.);
  • Soja (Glycine max);
  • Tomate (Solanum lycopersicum).

Sintomas e danos provocados na lavoura

Os ácaros são disseminados na lavoura pelo vento ou são transportados por pessoas e objetos que tiveram contato com plantas infestadas. Ao encontrar uma de suas plantas hospedeiras, as formas jovens e adultas começam a raspar e se alimentar do tecido da parte inferior das folhas, onde começam a aparecer lesões e um emaranhado de teias.

Já na parte superior das folhas atacadas, aparecem pontos cloróticos, ou seja, manchas amarelas ou avermelhadas provocadas pelo rompimento das células epidérmicas da planta.

Quando a infestação é muito alta, essas manchas podem comprometer boa parte da área foliar, podem escurecer e provocar o secamento da folha.

Como consequência, a capacidade fotossintética da planta atacada é reduzida, provocando a diminuição do peso e do número de frutos. Por isso, a lavoura infestada por essa praga pode apresentar uma queda grave na produtividade.

No caso do morangueiro, por exemplo, altos níveis de infestação associados a falta de controle da praga podem provocar uma queda de 80% na produção da cultura.

Essa redução varia de acordo com a vulnerabilidade da planta ao ataque. Apesar disso, essa porcentagem revela o poder destrutivo dessa praga. Sendo assim, é fundamental investir no monitoramento e controle da praga o mais rápido possível.

Como eliminar o ácaro-rajado?

O primeiro passo para eliminar esse ácaro da lavoura é investir no monitoramento. Somente através do acompanhamento constante da plantação é possível identificar e controlar a ocorrência dessa praga. Entenda abaixo.

Monitoramento da lavoura

O monitoramento constante da lavoura é fundamental não só para conter os danos causados por ácaros, mas também impedir a disseminação de lagartas, besouros, entre outras pragas. Afinal, monitorando a plantação de forma contínua e frequente, o agricultor consegue identificar a presença de pragas com antecedência.

Além disso, essas pragas podem ser avaliadas de forma mais criteriosa, permitindo que o animal responsável pela infestação seja identificado o mais cedo possível.

Como consequência, junto com técnicos e agrônomos, o produtor consegue definir a estratégia mais eficiente para lidar com o problema.

No caso do ácaro, especificamente, o controle da praga exige o monitoramento de todo o ciclo da cultura. Lembrando que no início das infestações, os ácaros ocorrem em reboleiras ou em algumas partes das lavouras.

Para identificar esses sinais, além de ferramentas digitais, o produtor pode contar com a ajuda de uma consultoria especializada, como o Patrulha, que é um serviço de monitoramento de pragas.

Vale reforçar que somente a partir desse monitoramento e do diagnóstico correto da praga, é possível implementar a estratégia certa de controle.

No entanto, para que a estratégia utilizada seja realmente eficiente, é necessário levar em consideração três fatores: o valor agregado do produto, o nível de infestação e o estágio de desenvolvimento no momento da infestação.

A partir de então, basta escolher a melhor forma de controle, biológico ou químico, e qual é o momento e a quantidade ideal de aplicação.

Controle biológico

Fazer o controle dessa espécie de ácaro é um grande desafio, já que ele é resistente a vários acaricidas. Por isso, a adoção do controle biológico da praga tem sido uma estratégia cada vez mais utilizada.

Para aplicar esse método de controle, é necessário inserir algum predador do ácaro na cultura atacada.

Mesmo assim, o controle biológico pode ser utilizado como estratégia principal ou complementar para reduzir o desenvolvimento populacional do ácaro-rajado.

Controle químico

Apesar da resistência de algumas populações aos componentes químicos de vários acaricidas, estratégias de controle químico ainda são muito utilizadas. Isso ocorre porque ainda é possível encontrar inseticidas desenvolvidos especialmente para o combate dessa praga.

Nesse caso, para conseguir resultados eficientes de controle, é fundamental escolher o produto correto para esse ácaro e aplicá-lo na dose certa e no momento adequado, conforme indicação do fabricante.

Um dos componentes químicos indicados para a realização desse controle é o espiromesifeno, princípio ativo do defensivo Oberon, que pode ser aplicado em diversas culturas atacadas por populações de ácaro-rajado.

Saiba mais sobre o acaricida Oberon!

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