Blog do Agro

Como devem ficar os preços da soja e do milho?

Alexandre Mendonça de Barros explica os impactos da macroeconomia internacional nos mercados agrícolas
02 de maio de 2024 /// 10 minutos de leitura

Nas últimas semanas, houve uma mudança relevante na trajetória da taxa de juros nos Estados Unidos.

Até o ano passado, aspectos como a queda acentuada na inflação marcaram a política monetária americana. Esse cenário levou a uma leitura de que os juros cairiam em 2024. Por outro lado, o mercado de trabalho nos Estados Unidos estava com taxa de desemprego de 3,6, número abaixo da média histórica do país.

"Na macroeconomia, é conhecida a correlação entre a inflação e o emprego. Quando o desemprego está muito baixo, a economia segue aquecida, o que gera potencial de alta inflação. Por consequência, esse cenário se traduz em certa dúvida do Banco Central Americano sobre o momento adequado para reduzir a taxa de juros", comenta Alexandre Mendonça de Barros, analista de mercado da consultoria MB Agro.

Como resultado, mais recentemente, a inflação americana voltou a subir devido ao aquecimento da demanda. Isso leva o mercado a concluir que os juros devem continuar altos nos EUA até o fim deste ano.

Esse cenário se refletiu na alta do dólar. O real, por sua vez, se enfraqueceu frente ao dólar, chegando a R$ 5,20. "Se olharmos para 2025, tem uma curva de câmbio e o real mais fraco. Esse é um fator muito relevante para todos os produtos agrícolas cotados em dólar. Então, a primeira mensagem positiva que surge é uma oportunidade de melhores preços futuros da soja, ao redor de 11,5 e 12 dólares o bushel", analisa o especialista em agronegócio.


Fechamento da safra de soja no Brasil

Mendonça de Barros acredita que a safra de soja brasileira deve fechar com produtividade de 155 milhões de toneladas, o mesmo número estimado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Na opinião dele, a área plantada no Brasil deve chegar a 1.400 milhão de hectares, acima do número oficial divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Parte da diferença nas expectativas de safra se deve, segundo ele, a essa discrepância entre as áreas plantadas de soja e em relação à produtividade em cada estado.

"Essa é a maior amplitude de projeções da safra brasileira nos últimos anos. É uma discussão muito complexa porque tem implicações relevantes nas expectativas de formação de preços. No entanto, no nosso entendimento, Chicago está refletindo esse volume de uma safra maior."

Além dessa expectativa por uma safra maior no Brasil, ele pontua que a Argentina adicionou 25 milhões de toneladas de soja à safra da América do Sul, o que aumentou o volume dos estoques globais.


Intenção de plantio nos EUA

Enquanto isso, nas lavouras dos Estados Unidos, o diferencial de preços entre a soja e o milho favoreceu o plantio da oleaginosa.

De acordo com dados do governo americano, são estimadas 122 milhões de toneladas de soja, contra 113 milhões da safra passada.

No milho, é esperada uma redução de cerca de 16 milhões de toneladas, saindo de 390 milhões no ciclo anterior para 374 na safra atual.

"É por essa razão que, quando olhamos os balanços americanos, o preço em dólar da soja está estável até o ano que vem. Enquanto isso, como as toneladas de milho devem encolher no maior produtor do mundo, a tendência para o mercado futuro é de leve alta, o que deve favorecer a formação dos preços do milho no Brasil."

Até o momento, a segunda safra de milho brasileira desenvolve-se bem, com chuva incidindo nas lavouras do Cerrado. De acordo com Mendonça de Barros, os preços do milho tendem a baixar durante a colheita da safrinha, mas há potencial de recuperação até o final do ano, já que Chicago sinaliza uma alta e porque, apesar da boa produção brasileira, o volume da safrinha de milho deve ser menor do que a de 2023.

Soma-se a isso o aumento na produção de carnes no Brasil, o que leva a uma demanda adicional pelo cereal para rações. Outro fator relevante é o crescimento na produção do etanol de milho, que deve chegar a 7,5 bilhões de litros e um consumo de 18 milhões de toneladas de milho.

"Por isso, entendemos que o milho será pressionado em termos de formação de preços quando na colheita da safrinha. Mas, nas nossas contas, há potencial de recuperação ao avançarmos para o final do ano, diante desse quadro de maior demanda e uma oferta um pouco menor no Brasil, nesta safra", conclui o analista de mercado.

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