Etanol de milho: tendências e oportunidades
Saiba como o biocombustível produzido a partir do milho amplia as oportunidades de negócio para os produtores rurais brasileirosA produção de milho, uma cultura amplamente cultivada no Brasil, vem ganhando um novo protagonismo no agronegócio.
Isso porque o crescimento da indústria de biocombustíveis está abrindo novas oportunidades para os produtores rurais, especialmente com a valorização da safrinha. Agora, esse cereal, que já é um dos principais produtos agrícolas do país, assume um papel estratégico nesse cenário, com impactos diretos na rentabilidade e sustentabilidade da produção.
De acordo com Jeferson Souza, analista de inteligência de mercado da Agrinvest Commodities, o milho e o etanol estão intrinsecamente ligados: “Não há como discutir a tendência do milho sem falar do etanol”, afirma. Ele conta que, embora a safra 2025/2026 tenha começado com algum estresse em relação à janela de plantio, especialmente no Cerrado brasileiro, o Mato Grosso, responsável por 48% da produção nacional de milho, já conseguiu semear 70% da área até a última semana de fevereiro. Apesar de ainda haver um risco com o atraso da semeadura, a demanda crescente pelo cereal, impulsionada pelo aumento dos preços, representa uma oportunidade para os produtores.
A perspectiva do mercado de biocombustíveis
É nesse contexto que o mercado de etanol de milho tem ganhado cada vez mais relevância. Na avaliação de Paulo Trucco da Cunha, diretor da FS Fueling Sustainability, essa indústria tem se consolidado como um complemento ao etanol produzido a partir da cana-de-açúcar. “O etanol de milho veio para ficar no Brasil. Ele tem um papel complementar ao etanol de cana-de-açúcar, e há espaço para os dois, com um mercado promissor”, afirma.
Além disso, a produção de etanol de milho no Brasil opera de forma contínua, o que representa uma demanda constante pelo cereal. Trucco projeta um crescimento considerável dessa produção: “Até o final da safra 2025, a produção de etanol de milho deve chegar a cerca de 8,5 milhões de metros cúbicos, e as projeções indicam que a produção pode dobrar até 2028.”
O papel da safrinha
A safrinha de milho, ou segunda safra, tem se tornado um pilar estratégico da produção nacional. Guilherme Hungueria, Gerente da Cultura de Milho na Bayer, explica que, além de ser uma cultura de grande importância para o Brasil, o milho se beneficia de uma forte demanda interna, principalmente para a alimentação de animais, a produção de comida e, agora, a fabricação de biocombustíveis. “A demanda está grande, e a perspectiva de preços mais atrativos para o milho é um fator positivo para os produtores”, destaca.
O profissional da Bayer também aponta que o cenário para a safrinha 2024/2025 é promissor, com a rentabilidade da cultura se destacando em relação ao passado. Isso ocorre, em grande parte, devido ao aumento da demanda interna e à valorização do milho. “Nos últimos anos, a rentabilidade do agricultor foi bem diferente do que está se desenhando para a próxima safra. A demanda pelo grão está alta em todas as frentes, o que garante preços mais atrativos”, afirma.
Mais demanda por etanol de milho
O etanol de milho não apenas complementa a produção de etanol de cana, como também ajuda a diversificar a matriz energética brasileira. Marcos Fava Neves, professor da USP e da Harven Agribusiness School, vê um grande crescimento no setor, com o Brasil alcançando volumes de produção cada vez maiores. “Estamos no caminho para alcançar um crescimento significativo na produção de etanol de milho, com perspectivas de chegar a 20 milhões de toneladas de milho utilizado em biocombustíveis em poucos anos. Esse crescimento também vai movimentar regiões produtoras, como Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, com investimentos significativos da indústria”, acrescenta.
Fatores que influenciam o mercado do milho
Jeferson Souza também menciona a importância do mercado de exportação no aumento da demanda pelo milho. “Em 2023, a China comprou 16 milhões de toneladas de milho brasileiro, o que representou 30% do mercado. Isso, sem dúvida, afetou positivamente os preços do grão. A demanda é forte e tem se expandido não apenas no mercado externo, mas também internamente”, explica.
Ele observa que, até 2027, o consumo de milho para a produção de etanol deve atingir 34 milhões de toneladas, um aumento expressivo em relação ao 1 milhão de toneladas registradas em 2016. “O etanol de milho vai fornecer uma condição de mercado mais favorável para os produtores rurais, ajudando a sustentar uma rentabilidade mais estável e possibilitando o aumento da área plantada.”
Desafios climáticos e tecnologias de manejo
Embora o mercado de milho seja promissor, os produtores devem estar preparados para enfrentar desafios climáticos e de manejo. Guilherme Hungueria lembra a importância do manejo adequado das pragas e doenças para garantir uma boa produção. “A pressão de insetos e doenças é um fator constante na produção de milho, especialmente no Brasil, onde mais de 80% da área plantada é de milho safrinha. A melhor estratégia é respeitar a janela de semeadura e adotar boas práticas de manejo para controlar pragas e doenças.”
A Bayer tem investido fortemente em inovações para ajudar os agricultores a enfrentarem esses desafios, com soluções inovadoras de proteção de cultivos. “Nossa missão é fornecer ferramentas e informações para que os produtores possam tomar decisões mais assertivas, visando aumentar a produtividade e garantir a rentabilidade com sustentabilidade”, reforça Hungueria.
O futuro promissor do etanol de milho
A indústria de etanol de milho tem um grande potencial de crescimento nos próximos anos. Segundo Trucco, a capacidade produtiva do Brasil deve dobrar até 2028, com a produção de etanol de milho alcançando 15 milhões de metros cúbicos. Esse crescimento está diretamente ligado ao aumento da produção de biocombustíveis.
Jeferson Souza reforça que o produtor rural deve focar na gestão de riscos para se beneficiar do crescimento esperado. “Em um cenário de expansão, é fundamental que o produtor se concentre na gestão de risco. O mercado é promissor, mas é sempre necessário ter cautela”, alerta. Ele também enfatiza a importância de travar negociações e garantir uma boa relação de troca, o que permitirá ao produtor aproveitar os preços mais favoráveis.
A produção de etanol de milho, portanto, se apresenta como uma tendência crescente no Brasil, com um mercado promissor que traz novas oportunidades para os produtores rurais.
A demanda interna e externa pelo grão, o crescimento da indústria de biocombustíveis, além das inovações no manejo e na tecnologia agrícola são fatores que garantem a continuidade dessa expansão. Dessa forma, o aumento da produtividade e a adoção de boas práticas de gestão de risco serão fundamentais para que os produtores possam aproveitar ao máximo as oportunidades oferecidas por esse mercado em constante evolução.