Blog do Agro

Perspectivas de mercado e clima para 2025

Especialistas em agronegócio falam sobre os desafios esperados para a safra 24/25 e como se preparar para colher bons resultados no campo
30 de janeiro de 2025 /// 9 minutos de leitura

O setor agropecuário brasileiro é uma indústria a céu aberto, sujeita à influência de fatores externos, como pragas, doenças, plantas daninhas e, principalmente, variações climáticas e de mercado. Esses dois últimos, por serem incontroláveis, merecem atenção especial dos produtores.

Marcos Fava Neves, especialista em agronegócio e professor da USP e da Harven Agribusiness School, e Marco Antonio do Santos, agrometeorologista da Rural Clima, analisam as perspectivas para a safra 2024/2025, os desafios que os produtores enfrentam e como mitigar riscos para garantir bons resultados.


Cenário pós-safra 23/24: um ano de desafios

Olhando em retrospectiva, a safra 2023/2024 foi marcada por uma série de imprevistos, com destaque para as condições climáticas desfavoráveis. Isso porque o fenômeno El Niño causou temperaturas elevadas e trouxe chuvas irregulares no país. Esses fatores impactaram negativamente diversas culturas, como soja, milho, café e laranja.

De acordo com Marcos Fava, houve uma perda de 20 a 25 milhões de toneladas de grãos na safra 2023/2024, devido aos desafios climáticos.

Marco Antonio destaca que o Brasil costuma ter quebra de safra em anos de El Niño e que a queda na produção foi consequência, principalmente, das altas temperaturas.

No entanto, a expectativa para a safra 2024/2025 é mais otimista, com a previsão de um aumento de 1,5 milhão de hectares e uma produção de grãos 25 milhões de toneladas maior, além de condições climáticas mais favoráveis.


O impacto do clima na produção

Em 2024, o fenômeno La Niña causou um atraso no início das chuvas, mas a segunda quinzena de outubro trouxe um avanço significativo no plantio de soja, que conseguiu compensar o atraso. O clima, de modo geral, tem sido mais regular e propício à produção em 2025.

É importante lembrar, no entanto, que a produção pode ser prejudicada por eventos climáticos extremos. “O excesso de chuvas durante a colheita, por exemplo, pode complicar a logística de transporte e secagem dos grãos", alerta Marco Antônio.

Portanto, é fundamental que os produtores estejam preparados para esses imprevistos e busquem otimizar seus processos logísticos.


Perspectivas de mercado: desafios e oportunidades

O mercado de grãos brasileiro está vivendo um momento de contrastes. Por um lado, a soja tem apresentado um comportamento de preços mais baixos, enquanto o milho teve uma recuperação.

"A produção de soja no Brasil deve alcançar 170 milhões de toneladas, um aumento de quase 20 milhões de toneladas em relação às projeções

iniciais. No caso do milho, aqueles produtores que não venderam antecipadamente podem se beneficiar, já que o preço está se recuperando e há um déficit de produção mundial", comenta Fava.

O ponto de atenção para o mercado de milho está no plantio da segunda safra, que depende do clima para o andamento das operações. O excesso de chuvas em algumas regiões do Brasil tem dificultado a colheita da soja e, consequentemente, pode atrasar o plantio do milho e afetar os resultados.


Como os produtores podem se proteger dos riscos

Segundo os especialistas, para mitigar os riscos climáticos e de mercado, os produtores devem tomar algumas medidas estratégicas:

  • Logística de colheita: o excesso de chuvas pode dificultar a logística de transporte e secagem. É importante se preparar para essas variações e otimizar a operação, aproveitando os períodos de sem chuva.
  • Tecnologia e manejo: o uso de tecnologias para maximizar a produtividade e o controle de doenças é essencial. Fava reforça a importância de extrair mais do hectare com mais segurança, usando tecnologias que permitam uma gestão mais precisa por metro quadrado.
  • Cautela financeira: em momentos de incerteza, é fundamental manter a saúde financeira da propriedade.
  • Monitoramento climático: o clima é um fator imprevisível, mas é possível se antecipar a possíveis adversidades. "Acompanhe as previsões e se cerque de bons profissionais para tomar decisões informadas", recomenda Marco Antonio.

O potencial do mercado de biocombustíveis

O avanço do setor de biocombustíveis é uma boa notícia para os produtores de grãos. O Brasil começou a misturar 30% de etanol na gasolina, e o programa de biodiesel, com a adição de 14% de biodiesel, deve aumentar progressivamente até 2030, chegando a 20% da mistura. Isso abre novas perspectivas de demanda para o milho e a soja. “O marco legal do biodiesel completou 20 anos. Nesse período, o país produziu 77 bilhões de litros de biodiesel, evitou a emissão de 240 milhões de toneladas de gás carbônico e evitou gastos de quase 40 bilhões de dólares com importação de diesel.”

Fava explica ainda que, em 2030, o Brasil pode utilizar até 20 milhões de toneladas de milho e 20 a 25 milhões de toneladas de soja para a produção de etanol e biodiesel.

Esse cenário traz um grande potencial de expansão, e o Brasil é o único país capaz de expandir 20 milhões de hectares de grãos nos próximos 10 anos sem aumentar a área cultivada, utilizando tecnologia agrícola.


Preparação para a safra 25/26

Pensando a longo prazo, os produtores que desejam se destacar na safra 25/26 devem focar em alguns pontos chave. Para Marco Antônio e Marcos Fava, os principais fatores incluem cuidados com o solo; gestão de insumos, realizando compras antecipadas; investimento em boas sementes e tecnologias para otimizar a produtividade; controle do endividamento, a fim de garantir uma operação sustentável a longo prazo; e, por fim, acompanhar as previsões do clima para as tomadas de decisão no campo.

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