Blog do Agro

Como o clima está impactando a safra do Hemisfério Norte?

Saiba como está a situação das lavouras de milho e soja nos Estados Unidos, quais os reflexos no mercado de grãos e as oportunidades para os brasileiros26 de julho de 2023 /// 10 minutos de leitura

O grande destaque na safra do Hemisfério Norte tem sido o clima, devido aos efeitos provocados pelo El Niño. O fenômeno tem impactado principalmente as lavouras dos Estados Unidos.

De acordo com Alexandre Mendonça de Barros, analista de mercado especialista em agronegócio, o El Niño costuma causar safras ruins sobretudo na Ásia, sem alterar de maneira relevante as safras dos Estados Unidos e Europa. "Entretanto, neste ano, a safra americana vem surpreendendo negativamente."

Em princípio, a fase de plantio nos EUA teve um dos melhores desempenhos da última década para o milho e a soja. Isso fez com que os fundos vendessem esses grãos e os preços caíssem significativamente em Chicago. Contudo, concluída essa etapa, ficou evidente que a seca estava prejudicando a fase de emergência das plantas. Mendonça de Barros diz que os relatórios do governo americano mostravam uma piora constante nas condições das lavouras, semelhante ao ocorrido em 2012, quando o país teve a pior safra das últimas décadas.

"Estamos discutindo a emergência das plantas, que é o começo de tudo. Além disso, não é usual haver problemas de umidade nos Estados Unidos porque os solos têm alta capacidade de retenção de água, mas esse ano foi diferente", acrescenta.

Segundo ele, com esse cenário, os preços voltaram a subir, pois os fundos que haviam vendido milho e diminuído as posições de soja começaram a recomprar essas posições, à medida que a percepção da safra americana piorava.

"Nas últimas semanas, as chuvas finalmente chegaram ao Meio-Oeste americano, não de uma maneira generalizada, mas isso acalmou os mercados. Veja a complexidade atual do mercado", reforça o analista.

Isso acontece porque, diferentemente do Brasil, o Hemisfério Norte não tem muitas safras e um estoque grande, então, pequenas variações de cenário sugerem uma margem menor de produtividade.

Além disso, em relatório divulgado recentemente, o governo americano reviu a área de milho em 800 mil hectares a mais, mas baixou em 1 milhão e 700 mil hectares a de soja. Isso mudou a percepção de oferta, favorecendo os preços da soja em detrimento do milho.


Como fica o balanço da soja e milho nos EUA?

De acordo com Mendonça de Barros, a safra de soja dos Estados Unidos, prevista para 123 milhões de toneladas, caiu para 117 milhões. "Considerando uma produtividade recorde, que não parece que vai acontecer pelos danos ocorridos nas lavouras, uma queda de 6 milhões de toneladas é muito significativa, de tal maneira que os estoques previstos para o fim da safra, em agosto do ano que vem, ficaram em 4 milhões de toneladas e não mais em 10 milhões, como projetado inicialmente."

A implicação prática disso para os agricultores brasileiros, que vão começar a plantar soja no segundo semestre, é que os americanos provavelmente vão exportar menos do que os 54 milhões de toneladas previstos para o próximo ano. Com isso, abre-se oportunidade para a soja brasileira. "Não foi à toa que os preços da oleaginosa, tanto no mercado mais curto como no mercado futuro, voltaram a subir", reforça.

Já para o milho, a conta é um pouco diferente porque os Estados Unidos têm uma produção relevante do grão. Além disso, o governo americano elevou a safra para quase 400 milhões de toneladas - no ano passado foram 349 milhões de toneladas. Mendonça de Barros, no entanto, alerta que esse número pode ser reduzido e estima uma queda de 15 a 20 milhões de toneladas.


Projeções de mercado para os próximos meses

O analista de mercado alerta que ainda deve haver uma grande volatilidade no mercado, durante as próximas semanas, por conta do clima. Mas esse momento pode representar uma janela de oportunidades para os produtores brasileiros.

“Nossos produtores devem aproveitar esses momentos de repique. Na minha visão, voltaremos a ter uma rentabilidade interessante na próxima safra, perto da normalidade, principalmente por causa da queda nos custos de produção."

Ainda de acordo com ele, é preciso acompanhar os reflexos da seca na Ásia, que podem impactar a safra por lá. Os meteorologistas também preveem que o auge dos efeitos do El Niño ainda estão por vir e devem se acentuar por volta do mês de setembro.

"A mensagem final, então, é que o mercado de clima tem dado uma oportunidade de elevações de preços, ao mesmo tempo, a redução de área de soja nos Estados Unidos provocou um aperto maior no mercado americano, o que abre mais espaço para o mundo vir ao Brasil se abastecer com a nossa soja", conclui.

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