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Podridão das vagens da soja: atualizações sobre a doença

Saiba quais são os novos dados em relação a essa doença que afeta a soja e quais as melhores estratégias de controle para manter a rentabilidade25 de julho de 2024 /// 10 minutos de leitura

A podridão das vagens, popularmente conhecida como anomalia da soja, vem preocupando produtores em todo o Brasil desde a safra 2019/2020. Antes restrita ao estado do Mato Grosso, a doença já passa a ser observada em lavouras de diferentes regiões do país. O problema se caracteriza pela presença de lesões de coloração marrom no grão de soja. Em grãos maduros afetados pela doença, também pode ser observada uma deformação na superfície e coloração esbranquiçada devido à presença do fungo.

"Muitas vezes, vemos uma vagem aparentemente normal, sem sintomas externos, mas ao abrir o grão, ele já está podre ou começando a apodrecer. Então, é uma doença de difícil diagnóstico por causa dessa característica", comenta Miller Lehner, Melhorista de Soja na Bayer.

Apesar de também ser conhecida como anomalia da soja, o termo correto para a doença é podridão das vagens, como explica Ximena Vilela, Gerente de Marketing Fungicidas na Bayer: "Existem vários outros problemas hoje, tanto na soja como em outras culturas, que estão sendo chamados de anomalia. Mas a melhor forma de identificar uma doença é tratá-la pelo sintoma que, neste caso, é uma podridão das vagens."


Incidência da podridão das vagens e condições do clima

Na safra 2023/2024, a podridão de vagens foi menos frequente e intensa quando comparada à safra anterior porque o clima do ciclo atual desfavorece os patógenos associados à doença.

Segundo Miller, nas lavouras do Mato Grosso cujos plantios foram realizados de início e meio de janela (final de setembro até meados de outubro), a incidência da doença foi muito baixa. Contudo, nos plantios de final de janela, foram observadas muitas áreas afetadas com a podridão dos grãos, principalmente no médio-norte do estado.

"Não podemos afirmar que com um plantio de janela é possível escapar do problema porque vai depender muito do padrão de chuvas. Mas independentemente disso, de fato de maneira geral, a experiência tem nos mostrado que em época de La Niña há mais incidência. E com El Niño, em plantio de final de janela, também há maior intensidade do problema", conta o melhorista da Bayer. Ximena destaca que essa informação sobre a janela de plantio é nova e pode ser usada como uma das táticas de manejo. "O que não podemos perder de vista é que na próxima safra está prevista a ocorrência de La Niña, um cenário muito parecido com o que tivemos na safra 2022/2023, com altíssima pressão da podridão das vagens O produtor precisa ficar alerta", destaca.


Novas descobertas sobre a podridão das vagens

A Bayer conduziu, em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), pesquisas a fim de identificar o agente causal da podridão dos grãos, além de analisar a sensibilidade de alguns fungicidas frente a esses patógenos.
De acordo com Eduardo Mizubuti, professor de fitopatologia na UFV, amostras de grãos afetados, coletados em diferentes regiões do país, têm comprovado o envolvimento de três espécies de fungos que afetam diversas variedades de soja, cultivadas em diferentes situações. São elas: Diaporthe, Fusarium e Colletotrichum.

"Agora, quando separamos esses gêneros e inoculamos, as espécies de Diaporthe são as mais frequentemente relacionadas a esse problema", conta.

Então, é provável que os fungos Diaporthe sejam a causa da doença, enquanto Fusarium e Colletotrichum ajam como fungos oportunistas. Outra possibilidade, segundo o professor, é que esses dois fungos já estejam presentes na planta de soja e Diaporthe cause os sintomas.


Como combater a doença e manter a rentabilidade?

A estratégia para superar o desafio com a podridão das vagens na soja é integrar diferentes práticas de manejo. "Como se trata de uma doença causada por fungos, que são transmitidos por sementes, é preciso ter muito cuidado com a qualidade do material que será usado no plantio. O uso de sementes certificadas, de boa qualidade, é a prática fundamental para começar com uma boa lavoura", recomenda Mizubuti.

O tratamento de sementes vem na sequência a fim de reduzir a probabilidade da podridão das vagens, assim como a escolha de variedades, produtos químicos e, na opinião do professor da UFV, o manejo biológico, principalmente na dinâmica de interação com a palhada. "O resto de cultura que fica no campo depois que você colhe a soja é fonte de inóculo, ou seja, é um local onde o fungo pode sobreviver e passar de uma safra para outra. Ao utilizar um produto biológico que ajude a fazer esse controle para diminuir a população do fungo na palhada, é possível contribuir para o manejo da doença."


A importância de escolher variedades resistentes

Miller conta que os estudos realizados com mais de 200 variedades de soja, avaliadas ao longo dos últimos três anos, indicam que a reação à podridão de grãos e vagens é muito variável em função do germoplasma.

Gráfico 1

Há variedades com mais de 60% de vagens com sintomas, enquanto outras apresentam proporções muito baixas, com menos de 5%.
Nesse cenário, a variedade Monsoy 8220 i2x se destaca em ensaios conduzidos pela Embrapa, como referência de tolerância a essa doença.

"Temos visto muitas variedades suscetíveis ao problema, sejam precoces, médias e tardias. Assim como também vemos variedades precoces, médias e tardias com um bom nível de resistência à podridão das vagens. E aproveito para enfatizar que resistência não é sinônimo de imunidade. Uma variedade ser resistente não significa que ela é blindada", ressalta o profissional.


Manejo Bayer é destaque no combate à doença

Resultados de um consórcio liderado pela Embrapa mostram a relação entre produtividade e o controle de grãos avariados pela doença com o uso de fungicidas.

Nesse estudo, o Fox® Supra se destaca, seguido de outros produtos à base de carboxamida, incluindo o Fox® Xpro.

Ximena conta, ainda, que outra pesquisa realizada pela Bayer sobre a mancha-alvo, doença que também é muito expressiva no Mato Grosso, mostra novamente o Fox® Supra com a melhor performance no controle da doença. "Não podemos esquecer que existe um complexo de doenças a ser considerado no momento de escolher os fungicidas. Então, não basta o produto ser bom apenas para a podridão das vagens, ele também precisa controlar a mancha-alvo", afirma a profissional da Bayer.

Para o manejo de fungicidas na soja, é recomendada uma aplicação no estádio vegetativo V4 com Nativo®, uma segunda aplicação no pré-fechamento com Fox® Xpro, outra com Fox® Supra após 15 dias, a quarta com o novo produto Nativo® Plus e, para encerrar, Sphere Max.

"Neste manejo Bayer, contemplamos não só a podridão dos grãos, mas um complexo de doenças. No caso do Mato Grosso é uma estratégia muito boa para mancha-alvo, mas no restante do país, oferece um amplo controle para ferrugem asiática, septoriose e cercosporiose", completa Ximena.

Gráfico 2

Perspectivas para o mercado da soja

O professor Marcos Fava Neves destaca que as últimas estimativas divulgadas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apontam uma produção mundial de soja ao redor de 420 milhões de toneladas. Nesse cenário, a produção do Brasil representaria 165 a 170 milhões de toneladas, a dos Estados Unidos 120 milhões e a da Argentina ao redor de 50 milhões. Esse resultado geraria um estoque global 15% maior.

"Tem bastante soja no mercado, por isso os preços estão em situação de baixa. Nesse contexto, para controlar a margem, é fundamental ficar de olho nos aspectos que destroem valor e um deles é o controle de doenças. Quanto mais tecnologia for utilizada, quanto antes o diagnóstico for feito e quanto melhor for o combate, maior será a preservação das margens do produtor rural", conclui o especialista em agronegócio.

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