Mercado sucroenergético: o que você precisa saber sobre o setor do álcool e açúcar
O mercado sucroenergético é crucial na economia global, centrado na produção de açúcar, etanol e bioenergia a partir da cana-de-açúcar. Este setor movimenta mais de US$ 100 bilhões na sua cadeia produtiva, sendo responsável por cerca de 2% do PIB brasileiro.10 de outubro de 2024 /// 3 minutos de leituraConsiderado um dos pilares do agronegócio brasileiro, a produção de cana-de-açúcar transformou o Brasil em campeão mundial no mercado sucroenergético.
Inserida no país pelos colonizadores portugueses, o cultivo da cana passou por várias transformações ao longo do tempo, especialmente após a década de 1990. Essa época coincide com o surgimento dos veículos full flex e o aumento do consumo de açúcar e etanol, interna e externamente.
Para atender a essa demanda, os produtores adotaram práticas de plantio e manejo mais eficientes para obter uma lavoura mais produtiva. Por isso, hoje o país é líder na exportação desse ativo.
Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil registrou um recorde de exportação de açúcar na safra 2023/24. Mais de 35 milhões de toneladas desse produto foram enviadas ao exterior, um aumento de 22,9% em relação ao ciclo anterior.
A planta também é muito utilizada para extrair novos subprodutos desse setor: o etanol (álcool) e a bioeletricidade. Entenda mais neste artigo!
O que é o mercado sucroenergético?
O mercado sucroenergético, também chamado de complexo ou setor sucroalcooleiro, agrupa todas as atividades e indústrias relacionadas à cadeia produtiva da cana-de-açúcar. Isso envolve desde os responsáveis pela plantação da cultura até o beneficiamento e a transformação desse produto em açúcar, álcool e bioeletricidade.
Vale lembrar que, embora o açúcar ainda seja o produto mais conhecido desse setor, o etanol e a bioeletricidade também merecem destaque. Produzidos a partir do bagaço, a demanda aumentou nas últimas décadas.
Esse crescimento é resultado do fato de que ele oferece energia limpa, em larga escala e, por vezes, por um preço mais acessível que a gasolina.
Qual a importância do mercado sucroenergético para a economia agrícola?
O setor sucroenergético é considerado estratégico para a economia agrícola do Brasil, líder mundial na produção de cana-de-açúcar e seus derivados.
Além de alta produtividade no cultivo e colheita, nossas usinas são reconhecidas mundialmente pela eficiência no processamento.
Com o advento da produção de bioenergia, o setor passou a ser conhecido também como sucroenergético, integrando temas de inovação, sustentabilidade e responsabilidade social.
Os impactos desse mercado vão além, influenciando no desempenho econômico do país. Para se ter uma ideia, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), o valor bruto movimentado por sua cadeia produtiva supera US$ 100 bilhões.
Além disso, ele registra um Produto Interno Bruto (PIB) de aproximadamente US$ 40 bilhões. Isso significa que é responsável por movimentar cerca de 2% do PIB brasileiro. E esses números devem continuar crescendo.
Açúcar x etanol: quem ganha essa briga?
O bagaço da cana pode ser utilizado tanto para a fabricação de açúcar, quanto para a produção de álcool. Porém, o destino de cada um desses subprodutos é bem diferente.
A sacarose é destinada, principalmente, à exportação. Já o etanol abastece o mercado interno. Outra diferença está na precificação. No caso do açúcar, a oferta e a demanda no cenário internacional são determinantes na precificação e, consequentemente, no lucro do produtor rural.
Em compensação, no caso do álcool, a demanda doméstica e a competitividade com outros combustíveis é que influenciam o preço e a lucratividade desse subproduto.
Por conta desses fatores, muitas usinas produzem ambos, ajustando a quantidade de cana destinada a cada produto conforme as flutuações e tendências do setor. Essa adaptação provoca oscilações no volume e na negociação no mercado internacional.
Na safra 2023/24, por exemplo, o etanol ganhou essa disputa. De acordo com dados da Unica, apenas 48,83% da cana-de-açúcar foi direcionado à fabricação do adoçante na última temporada.
No entanto, o cenário pode mudar no próximo ciclo de cultivo. Conforme um levantamento da Conab, o Brasil deve produzir cerca de 46,3 milhões de toneladas de açúcar e 27,3 bilhões de litros de etanol na safra 2024/25.
A estimativa de produção desse biocombustível representa uma queda de 8% em relação ao ciclo anterior, refletindo a redução da competitividade de mercado do biocombustível frente ao açúcar.
Quais os principais desafios do mercado sucroenergético?
Segundo relatório do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), a categoria enfrenta diversos desafios, especialmente em relação à produção de biocombustíveis.
Um deles é que os países produtores de etanol também são os seus principais consumidores.
Por esse motivo, o volume de exportação é pequeno, fator utilizado como justificativa para que ele não seja considerado uma commodity internacional.
Outro desafio reflete o debate político em torno do conflito “combustíveis x alimentos”. Países europeus, Estados Unidos e China, por exemplo, temem o aumento do preço dos alimentos caso utilizem terras agrícolas para produção de combustíveis.
Ainda segundo o relatório, a flexibilidade para produzir etanol e açúcar, que estimulou o desenvolvimento do setor na última década, está diminuindo.
Como resultado, o investimento nesse mercado também está caindo. Isso porque a demanda por açúcar cresce vegetativamente, enquanto a demanda por etanol cresce acima de 5% ao ano.
Além desses fatores, os custos operacionais e beneficiamento da cana, bem como a manutenção do preço do petróleo em patamares relativamente baixos, também são desafios enfrentados.
Quais são as oportunidades de crescimento e inovação no mercado sucroenergético?
A preocupação crescente com as mudanças climáticas deve incentivar a adoção de medidas de apoio a tecnologias de baixo carbono nos próximos anos. Essa preocupação deve abrir as oportunidades para o crescimento da produção de etanol no país.
Isso porque o Brasil prometeu elevar a proporção de bioenergia sustentável em sua matriz energética para cerca de 18% até o ano de 2030. Para cumprir essa meta, é necessário aumentar a oferta de etanol e o consumo de biocombustíveis.
Além de contribuir para a redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE), a tendência é que o país produza mais álcool para evitar o chamado “apagão de combustíveis” no médio prazo.
Por conta desse cenário, empresas que atuam nesse setor encontram nos produtos da transição energética, como bioenergia e biocombustíveis avançados, uma oportunidade para crescer. No entanto, para diversificar, os produtores precisam aumentar seus níveis de produtividade.
Para Denis Arroyo, Diretor Executivo da Organização de Associações dos Produtores de Cana do Brasil (ORPLANA), esse aumento exige investimento em melhoramento genético dos cultivares.
Ele também exige que o produtor adote inovações no cultivo e beneficiamento, como no processo de pós-mecanização.
Ainda segundo Denis Arroyo, é importante que o produtor fique atento à agrotecnologia, ou seja, na aplicação de tecnologia para o acompanhamento da lavoura. Isso é importante para otimizar o controle de pragas na cana-de-açúcar e aumentar a qualidade da matéria-prima.
No caso da cana, o manuseio da palha é uma ótima forma de beneficiar a produção, auxiliando na melhora da microbiologia do solo, bem como no controle de umidade e temperatura.
Quais são as principais tendências para o mercado sucroenergético?
Segundo Ivelise Calcidoni, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), a tendência é que os produtores diversifiquem seu portfólio e invistam em soluções sustentáveis para o mercado sucroenergético.
Assim, eles conseguem reduzir os riscos associados às oscilações da produção, e se adequar às demandas do cenário internacional.
Isso porque a descarbonização do setor de transportes se tornou prioridade ao redor do mundo. O Brasil é considerado um país estratégico para reduzir a pegada de carbono e solucionar os problemas resultantes das mudanças climáticas.
Para aumentar a diversidade, os empresários do setor podem investir no desenvolvimento de biocombustíveis, como biometano, e na venda de Crédito de Descarbonização (CBIO), por exemplo.
No entanto, essa diversificação deve exigir investimento em biotecnologia e a formação de parcerias com empresas de outros setores da economia. Dessa forma, o setor seguirá se transformando e se adaptando às forças internas e externas que o influenciam.
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