Mofo-Branco: sintomas, manejo, tempo de vida
O mofo-branco é uma das doenças fúngicas mais difíceis de eliminar da lavoura. Isso porque o fungo causador da doença pode ser disseminado de várias formas e ainda é capaz de desenvolver estruturas de resistência.
Além disso, a doença pode afetar mais de 400 plantas, incluindo espécies economicamente importantes, como soja e algodão.
Caso não seja controlada, o mofo-branco pode causar perdas de até 70% da produção. E a melhor forma de controlar essa doença é investir em estratégias de manejo integrado.
Neste artigo, explicaremos as principais características dessa doença e quais as melhores estratégias para prevenir e controlar o seu patógeno.
O que é mofo-branco?
O mofo branco é causado por um fungo ascomiceto chamado Sclerotinia sclerotiorum. Esse fungo possui uma ampla gama de hospedeiros.
Até o momento, mais de 75 famílias, 278 gêneros e 408 espécies de plantas já foram relatadas, incluindo espécies economicamente importantes, como soja, girassol, canola, ervilha, feijão, algodão, batata, alface e cenoura.
Além dessas espécies, algumas plantas daninhas também podem hospedar o fungo, dificultando seu controle. É o caso do amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla), caruru (Amaranthus deflexus), corda-de-viola (Ipomoea nil), picão preto (Bidens pilosa), entre outras.
Normalmente, o fungo ataca as hastes e ramos das plantas, que passam a desenvolver sintomas como amarelecimento, murcha e secamento de folhas. Em casos mais graves, a doença pode inclusive levar à morte da planta.
Por conta dos danos que essa doença causa na lavoura, ela também é conhecida como podridão de esclerotinia, podridão-de-sclerotinia, podridão branca e murcha de esclerotinia.
Como a podridão de esclerotinia contamina a lavoura?
O fungo causador da podridão de esclerotinia pode se disseminar de diferentes maneiras. Uma das principais formas de introdução do patógeno na lavoura é através de sementes contaminadas.
O patógeno também pode se disseminar por meio do vento, da água contaminada e por máquinas e implementos agrícolas sujos com solo contaminado.
No entanto, o maior perigo para a lavoura se encontra mesmo no solo. Isso porque o fungo S. sclerotiorum é capaz de desenvolver estruturas de resistência chamadas de escleródios.
Essas estruturas permitem que o fungo consiga sobreviver e continuar viável por até 10 anos em ambientes hostis ao seu desenvolvimento. Quando essa estrutura encontra condições favoráveis ao seu desenvolvimento, ele pode germinar e continuar o ciclo de vida do fungo.
Leia também: Identificação e manejo de mofo-branco na soja
Como essa doença se desenvolve?
Para entender como esse fungo se desenvolve, é preciso conhecer o ciclo de vida desse patógeno. Geralmente, ele se inicia quando os escleródios encontram condições favoráveis à sua germinação.
Essas condições envolvem principalmente temperaturas abaixo de 20°C e umidade elevada, característica comum principalmente em períodos chuvosos e em áreas com constante molhamento foliar.
Nesse ambiente, o escleródio pode germinar de duas formas distintas. Na germinação carpogênica, o escleródio produz os apotécios, estruturas reprodutivas de onde saem os esporos.
Essas estruturas que lembram cogumelos permanecem na superfície do solo, onde liberam uma grande quantidade de esporos (ascósporos). Nesse caso, os esporos se disseminam principalmente pelo vento e são responsáveis pela infecção da parte aérea das plantas.
Já na germinação micelogênica, os escleródios produzem hifas após a germinação. As hifas são pequenos filamentos que compõem o micélio, estrutura ramificada responsável pela sustentação e nutrição do fungo.
Normalmente, essas hifas infectam a matéria orgânica presente no solo e depois atacam folhas e hastes da planta hospedeira em contato com o terreno.
Nos dois tipos de germinação, após infectar a planta, o fungo começa a produzir micélio e se disseminar para outros órgãos vegetais.
Caso haja mudanças na disponibilidade de nutrientes ou nas condições climáticas do ambiente, os tecidos doentes das plantas são utilizados para a formação de uma massa negra e rígida, responsável por originar os escleródios.
Vale lembrar que a velocidade da evolução da doença também é influenciada por essas condições climáticas. Normalmente, seu desenvolvimento é retardado ou paralisado quando o ambiente se torna mais seco. Porém, essa evolução é retomada quando a umidade volta a subir.
Quais os sintomas do mofo-branco?
Os sintomas causados pela podridão de esclerotinia variam conforme o tempo da infecção das plantas. Inicialmente, o ataque do fungo provoca o desenvolvimento de lesões encharcadas nas partes aéreas da planta.
As flores são a porta de entrada mais comum para esse patógeno. Quando elas são infectadas, permitem que o fungo cresça e se espalhe para as estruturas próximas, como o pedúnculo e a haste principal.
As pétalas dessas flores podem cair sobre as folhas da planta, contribuindo para a disseminação do patógeno para outros órgãos da planta.
Em contato com esses órgãos, o fungo produz uma grande massa de micélio branco, de aspecto cotonoso, característica marcante da doença.
Na haste, a produção dessa massa branca prejudica o transporte de água e nutrientes para todos os órgãos vegetais. Por isso, com o tempo, a planta começa a apresentar sintomas de murchamento, amarelamento e secamento das folhas.
Vale destacar que os sintomas de podridão de esclerotinia também podem variar de acordo com a cultura atingida. Por exemplo, na soja, essa doença fúngica prejudica o enchimento dos grãos, que se tornam menores, enrugados e passam a apresentar uma coloração atípica.
Já na lavoura de algodão, o fungo pode danificar o pedúnculo da maçã e atacar diretamente os frutos, provocando o apodrecimento do capulho.
Leia também: Mofo branco: como o Serenade auxilia no controle da doença
Como acabar com o mofo-branco na lavoura?
Ainda não existem tratamentos efetivos para eliminar o fungo do mofo-branco já introduzido na lavoura. Por esse motivo, a melhor forma de acabar com essa doença é investir na empresa.
Para isso, não basta adotar uma medida isolada. O ideal é investir no manejo integrado de doenças, estratégia que combina diferentes práticas para evitar a introdução do patógeno na área de cultivo.
Confira abaixo quais técnicas de manejo integrado podem ser utilizadas para erradicar esse problema.
Controle cultural
O controle cultural envolve o uso de técnicas e estratégias para criar um ambiente menos favorável ao crescimento e propagação de patógenos.
Esse tipo de controle envolve a adoção de estratégias como rotação de culturas com plantas não-hospedeiras do fungo, controle de plantas daninhas e formação de palhada no solo, importante para criar uma barreira física à passagem dos esporos.
Outra estratégia importante é investir apenas em sementes sadias, tratadas e certificadas. Isso porque sementes contaminadas podem introduzir o fungo na lavoura.
Em áreas com elevada incidência da doença, o produtor também pode aumentar o espaçamento de entrelinhas e usar cultivares mais eretas e com menor área foliar. Isso porque reduzir a densidade de plantas melhora a aeração e favorece a maior penetração de fungicidas.
O controle cultural também deve ser feito por meio da limpeza dos maquinários, medida essencial para evitar possíveis restos culturais ou partículas de solo contendo o patógeno. Plantadeiras, por exemplo, podem carregar escleródios de uma área infectada para outra.
Vale lembrar que áreas com histórico de ocorrência da doença têm mais chances de ser infectadas novamente.
Por isso, é importante investir no monitoramento da lavoura, prática que facilita a identificação de apotécios e escleródios no solo, e das condições climáticas em períodos anteriores ao período crítico de infecção na cultura.
Controle químico
Existem fungicidas específicos e com elevada eficácia no controle de mofo-branco. Porém, a ação de controle dos fungicidas é maior quando eles são aplicados de forma preventiva.
Para aplicar esse tipo de defensivo, é fundamental aplicar defensivos comprovadamente eficazes para o controle químico da doença na cultura que está sendo cultivada.
Além disso, o ideal é criar um programa de controle que permita a rotação de fungicidas com diferentes mecanismos de ação para evitar o desenvolvimento de populações mais resistentes.
A eficiência desse tipo de controle também depende do modo e da época de aplicação. Normalmente, a primeira aplicação deve ocorrer quando surgirem as primeiras flores. Uma segunda e, em alguns casos, uma terceira aplicação também pode ser necessária.
Elas devem ser realizadas em intervalos adequados, entre 10 e 12 dias, dependendo das condições ambientais e da presença de flores e apotécios.
A qualidade da tecnologia de aplicação também influencia no sucesso desse controle. Por esse motivo, é importante usar tecnologias que visem o aumento da penetração de gotas para o dossel inferior das plantas e para a superfície do solo.
Controle biológico
Associar o controle biológico com a aplicação de fungicidas é uma estratégia eficiente para proteger a lavoura contra doenças fúngicas em plantas.
O uso de microrganismos antagonistas, ou seja, de predadores do fungo S. sclerotiorum é recomendável especialmente quando o solo está infestado por escleródios.
Para isso, o produtor pode aplicar biofungicidas à base de microrganismos como a bactéria Bacillus subtilis e fungos do gênero Trichoderma.
Ambos são considerados eficazes para reduzir a produção de esporos S. sclerotiorum e a taxa de infecção do mofo nas plantas. No entanto, assim como os fungicidas, esses produtos devem ser utilizados de maneira preventiva.
Adotando essa abordagem integrada, que combina várias estratégias de controle de doenças agrícolas, o produtor aumenta a proteção da lavoura e evita os prejuízos causados pelo mofo-branco.
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