Cigarrinha-das-pastagens: tudo o que você precisa saber para garantir uma produção saudável
A cigarrinha-das-pastagens pode reduzir a qualidade da gramínea forrageira e a capacidade de suporte do capim. Saiba como controlar essa praga!23 de setembro de 2024 /// 5 minutos de leituraAs pastagens formam a base da alimentação dos rebanhos na bovinocultura de corte nacional. Apesar disso, elas ainda são consideradas culturas de baixo valor por unidade de área.
Por esse motivo, nem sempre os produtores investem em medidas de controle eficientes para evitar a infestação de insetos pragas que atacam essas plantas.
Esses insetos incluem as chamadas cigarrinhas-das-pastagens, que se destacam pelo alto nível populacional e danos causados na produção de gramíneas.
Elas são consideradas as principais pragas das pastagens. Além de diminuir a disponibilidade e a qualidade da gramínea forrageira, ela também reduz a capacidade de suporte do capim.
Caso essas pragas não sejam controladas, os prejuízos na produção de pastagem podem comprometer a alimentação e o desempenho do gado de corte.
Para evitar esses problemas, o produtor precisa entender o comportamento dessa praga e conhecer medidas de manejo adequadas para garantir a alta produtividade do capim.
Neste artigo, explicaremos as principais características das cigarrinhas, como identificá-las e como controlar essa praga.
O que é a cigarrinha-das-pastagens?
Cigarrinha-das-pastagens é o nome popular de um complexo de insetos sugadores capazes de atacar diferentes espécies de gramíneas forrageiras, ou seja, de capins.
Segundo um documento elaborado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), esse complexo de insetos é formado principalmente pelas seguintes espécies:
Notozulia entreriana;
Deois incompleta;
Deois flavopicta;
Deois schach.
Quais os sintomas causados pela cigarrinha-das-pastagens?
O ataque dessa praga agrícola costuma causar o desenvolvimento de vários sintomas na planta infestada.
A infestação da cigarrinha ocorre principalmente durante a estação chuvosa, período que coincide com a principal fase de crescimento das forrageiras e com o processo de ganho de peso dos animais, que ainda estão se recuperando da seca da estação anterior.
Por isso, o ataque pode prejudicar tanto a produtividade da pastagem quanto a alimentação do rebanho.
Segundo a pesquisadora da Embrapa, ao se alimentar, o inseto secreções salivares na planta. Essas secreções contêm substâncias que causam clorose na planta.
Isso significa que a planta fica com aspecto amarelado, como se as folhas tivessem sido queimadas em função da presença de estrias amareladas.
Também pode ocorrer o secamento das folhas, que ganham um aspecto retorcido. Em casos graves, o ataque pode causar a morte da planta.
Além dos sintomas nas plantas, o ataque da cigarrinha-das-pastagens pode ser identificado pela presença de espuma no pasto e de insetos adultos. Isso porque, normalmente, os maiores danos são causados quando os insetos estão na fase adulta.
“No caso das cigarrinhas do gênero Mahanarva, os danos causados pelas ninfas são tão prejudiciais quanto os causados pelos adultos, pois são cigarrinhas maiores e mais agressivas”, completa Fabricia Zimermann.
Quais os danos causados por essa praga?
Os sintomas causados pelo ataque das infestações de cigarrinhas podem causar a redução da produção da matéria seca, da quantidade de raízes e da persistência da gramínea no campo.
No entanto, o maior problema causado pela infestação da praga é a redução da qualidade das pastagens, já que isso pode prejudicar a alimentação do rebanho.
Segundo uma pesquisa publicada na revista Nature, infestações de cigarrinhas do gênero Mahanarva spp. podem reduzir a produtividade da carne bovina em 74%.
O mesmo estudo revelou que a redução de produtividade da pastagem causada pelo inseto pode ficar entre 31% e 43%, dependendo do nível de infestação.
Em alta pressão, isto é, quando o número de insetos concentrados em uma área é elevado, toda a pastagem pode ser comprometida. Esse contexto causa um fenômeno conhecido como “queima do pasto”, comprometendo a qualidade e uso do capim para a alimentação do gado.
Como fazer o controle da cigarrinha-das-pastagens?
Segundo a pesquisadora Fabricia Zimermann, o controle da cigarrinha deve ser preventivo e se concentrar na diversificação de pastagens com a inclusão de gramíneas resistentes.
O produtor pode combinar essas práticas com métodos de controle biológico e químico. Em outras palavras, a forma mais eficiente de acabar com essa praga na lavoura é investir no Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Essa abordagem prevê a combinação de diferentes métodos de controle de pragas para reduzir as condições favoráveis ao crescimento de populações dos insetos.
O ideal é que esses métodos comecem a ser aplicados antes da infestação para evitar a utilização de medidas corretivas.
Confira abaixo quais as práticas do MIP mais eficientes para eliminar a cigarrinha.
Monitoramento de pragas
A identificação correta do inseto e a detecção dos insetos ainda nas fases iniciais da infestação é fundamental para garantir a eficiência das medidas de controle.
Por isso, o produtor precisa investir no monitoramento de pragas, especialmente durante a estação chuvosa, período em que a incidência de praga na pastagem é maior.
O ideal é que o monitoramento seja feito pelo menos uma vez por semana ou a cada quinze dias, a fim de encontrar espumas, ninfas ou cigarrinhas adultas.
Vale lembrar que as ninfas permanecem próximas ao solo, enquanto os adultos voam para explorar a parte aérea das gramíneas, comportamentos que devem orientar o monitoramento.
Manejo das pastagens
O manejo correto das pastagens envolve o ajuste eficiente da carga-animal para evitar a sobra de pasto e o superpastejo.
Dessa forma, é possível diminuir a altura da gramínea e a quantidade de palha acumulada ao nível do solo. Essas características criam condições desfavoráveis ao desenvolvimento e sobrevivência de ovos e ninfas das cigarrinhas.
Escolha de cultivares adequadas
O plantio de cultivares tolerantes e resistentes e a diversificação dos capins são ações eficientes no manejo do inseto. Isso porque quanto maior a quantidade de capim resistente, menor a severidade do ataque da cigarrinha-da-pastagem.
Para fazer essa diversificação, o produtor pode investir em cultivares como Brachiaria brizantha cv Marandu, B. brizantha cv. Piatã e Panicum maximum cv Massai.
Confira na tabela o nível de resistência de capins em relação às principais espécies de cigarrinha-das-pastagens:
Sementes de qualidade
O pecuarista também deve ficar atento à qualidade das sementes que serão utilizadas para cultivar as gramíneas.
A recomendação é investir apenas em sementes registradas e certificadas. Isso porque sementes de origem desconhecida ou pouco confiável podem conter ovos do inseto, favorecendo a disseminação da praga na pastagem durante o plantio.
Controle biológico
O controle biológico da cigarrinha-das-pastagens consiste no uso de inimigos naturais da praga para combater o seu crescimento populacional.
Esse tipo de manejo pode ser realizado com bioinseticidas a base do fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae, também conhecido como fungo verde.
No entanto, a aplicação desse bioinseticida é indicado na segunda e terceira geração de insetos, somente quando forem observados entre 6 e 25 ninfas ou 20 a 30 adultos por m².
Controle químico
O controle químico consiste na aplicação de inseticidas químicos, como produtos à base de organofosforados, piretroides e neonicotinoides. No entanto, a aplicação desses defensivos deve seguir alguns cuidados.
A primeira recomendação é utilizar somente inseticidas registrados no Ministério da Agricultura. Outro cuidado importante é concentrar a aplicação desses produtos assim que os primeiros focos da praga forem identificados no início do período chuvoso.
Essa medida ajuda a reduzir a reprodução da praga nos próximos ciclos e ainda evita que os inseticidas diminuam as populações de inimigos naturais da praga.
Portanto, fazer o monitoramento periódico da pastagem é essencial para identificar o momento certo de pulverização dos inseticidas.
Vale lembrar que os animais devem ser retirados da área de pastagem antes da realização desse controle químico. O rebanho poderá retornar à área somente após o período especificado pelo fabricante do produto.
Seguindo essas dicas, proteger as pastagens e garantir capim de qualidade para os animais será mais fácil.
Gostou do conteúdo? Aprenda mais sobre o manejo de pragas com a Agro Bayer!